4.04.2016
Crise: falência dos partidos e carência de líderes
por Germano Rigotto
Toda crise tem suas lições. A que estamos vivendo não é diferente. Ela é especialmente pedagógica ao mostrar algumas das principais mazelas que enfrenta o país. A falência do sistema político é um dos exemplos mais escancarados disso.
Claro, que, como já demonstrei diversas vezes em meus espaços, a corrupção não pode desculpar-se ou mesmo justificar-se pelo sistema. Não. Ela ocorre, em primeiríssimo lugar, por um desvio de ordem moral. É depreciável sempre. Todavia, o modo como a legislação encadeia e organiza as instituições pode ser decisivo para a qualidade política e econômica de um país. A regra do jogo, portanto, faz toda a diferença.
No caso do Brasil, o ordenamento eleitoral e político é um convite às más práticas. Há quem consiga, apesar disso, transitar corretamente pela atividade pública. Contudo, o ambiente está cada vez menos propenso para quem se lança a ele de boa fé – movido por ideias e ideais.
Se as regras não ajudam, quanto menos os partidos. Pego a referência do PMDB. E fico apenas no caso mais recente. O Diretório Nacional decidiu sair da base aliada do governo Dilma. Independente da adequação do tempo, do mérito ou da forma com que a decisão foi tomada, o fato é que todos deveriam obedecer. Só que, mesmo assim, uma parte de ministros e assessores segue ocupando seus postos. Constrangedor, para dizer o mínimo.
Na verdade, o PMDB está tentando corrigir um erro que passou a cometer desde o governo Fernando Henrique, quando decidiu ser mero figurante dos governos. De uma instituição histórica e umbilicalmente ligada à conquista da democracia, o partido foi aderindo aos rótulos do fisiologismo mais baixo que existe. Perdeu discurso, identidade, engajamento e significado social. Virou uma grande confederação de interesses difusos.
Isso ocorre com quase todos os partidos. As ideias se dissiparam, Mesmo as agremiações mais ideológicas se deixaram levar pelo pragmatismo do poder. Mergulharam em contradições homéricas. Preferiram mergulhar no jogo de interesses a redescobrir suas bandeiras. Rasgaram o discurso e abandonaram as boas práticas. Não restou quase nada.
Houve um tempo em que os dirigentes partidários garimpavam jovens com potencial de liderança política. Eu mesmo fui formado nesse viés: por uma construção paulatina e orgânica, saí de vereador em minha cidade, Caxias do Sul, até ser governador do Estado – sempre pelo mesmo partido. Hoje, infelizmente, a formação dessas seleções diminuiu bastante.
Ainda há uma juventude pulsante em muitos partidos. Mas a evolução desses quadros se dá muito mais por mérito dos indivíduos do que por um trabalho organizado de formação e reforço de identidade. Está cada vez mais difícil agregar jovens à vida partidária. Os que resistem são nossa esperança.
O resultado mais dramático de todo esse processo – de desordem sistêmica e de desordem partidária – é o que estamos vendo hoje no Brasil: a carência de líderes. Junto disso, um certo vácuo de esperança. É difícil exercitar uma projeção do país para depois da votação do impeachment, ocorra ele ou não, justamente porque ninguém no cenário nacional consegue catalisar a expectativa do dia seguinte.
Tudo isso precisa mudar. Não é possível que tenhamos representação de 28 partidos no Congresso Nacional, 35 legendas já legalizadas em atuação no país e outras 30 em processo de legitimação. Nesse caso, quantidade significa baixa qualidade. Não há espaço para tantas agremiações. E não é novidade que muitas viraram apenas e tão somente um balcão de negócios.
E nos bastidores políticos, o que temos para esta semana? O velho e surrado “toma-lá-dá-cá” envolvendo a cedência de ministérios, cargos e contratos a partidos – ou partes de partidos – que desejarem continuar apoiando a atual gestão.
O governo, já desnorteado, repete a mesma estratégia. Em vez de sinalizar transformações, chafurda nos próprios erros. Não trilha um bom caminho. E olhem que eu nem escrevi sobre economia… Que Deus nos ajude. E que o povo continue fazendo a sua parte – sem desistir.




