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11.04.2016

Boas iniciativas sucumbem à falta de governabilidade

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Graves crises, como a que vivemos, fazem com que até mesmo as boas iniciativas acabem subaproveitadas. É o caso do programa Brasil Mais Produtivo, capitaneado pelo ministro Armando Monteiro Neto, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O objetivo é aumentar em pelo menos 20% a produtividade das pequenas e médias indústrias que se inscreverem para participar. As empresas receberão consultoria de profissionais do Senai, que vão apontar diagnósticos para redução dos desperdícios mais comuns do processo produtivo – como tempo de espera, transporte, excesso de processamento, inventário, movimentos e defeitos.

Modelos adequados como esse pagarão o preço de estarem num governo que já não governa mais. Na política, nada avança sem… Política! E, nesse sentido, o governo Dilma já sucumbiu. Na verdade, o segundo mandato nasceu paralisado. Muito antes das denúncias envolvendo as pedaladas fiscais e a corrupção, a presidente já se via embretada pelas promessas que ela mesma fez durante a campanha – e que não conseguiu cumprir logo em seguida. Mais grave do que isso, fez ao contrário.

Além de quebrar a palavra e a confiança, a presidente e sua equipe não conseguiram desenvolver uma nova pauta para o país. Não há sobre a mesa da nação nada que indique o futuro. Quando tentou fazer isso, o governo foi errático. Joaquim Levy criou um severo plano de ajuste fiscal. Queria corrigir os erros do passado e correr atrás do prejuízo. Missão difícil e antipática. Foi sabotado por dentro e criticado por fora. Não teve apoio político e capacidade de construção. Ficou quase sozinho, inclusive sem a própria presidente. Caiu. Nelson Barbosa, de capacidade reconhecida, ainda não deixou claro seu caminho como Ministro da Fazenda. O governo, aqui e acolá, faz novas abordagens – como se a crise não existisse. Mas, noutra ponta, anuncia profundos cortes. É, portanto, uma gestão titubeante, ainda errática e insegura.

O descalabro econômico só não é maior do que o político. A presidente Dilma nunca fomentou uma base parlamentar firme. Houve um evidente isolamento do Palácio do Planalto em relação aos partidos aliados e à própria sociedade. A conexão popular foi se desfazendo. Nos últimos meses, guiado pelo ex-presidente Lula, o PT trabalha para reativar suas antigas bases políticas e sociais. E, do ponto de vista pragmático, tem alcançado seus objetivos. Também faz isso com alguns partidos da base aliada. Entretanto, usa do mais velho e surrado fisiologismo, abrindo um balcão de negócios por cargos, espaços e salários. Imagina salvar o Brasil por meio das práticas que justamente o conduziram a tal situação. É apenas o mais do mesmo.

Independente do impeachment, a verdade é que o governo Dilma perdeu as condições de governabilidade. De fato, já não governa mais. Simples assim. E digo isso mesmo antes de fazer qualquer juízo de valor sobre o processo de impedimento. Trata-se de um juízo de fato – realista, concreto. A realidade é que determina que não haverá mais qualquer possibilidade de reconstruir essa governabilidade, mesmo que o mandato, formalmente, sobreviva. A própria presidente e as pessoas mais próximas a ela deveriam perceber tal situação. Mas, como isso parece que não ocorrerá, o melhor caminho é esperar que tudo ande o mais depressa possível – e sempre dentro da lei e da ordem.