25.01.2016
Não aumentar juros: decisão sensata
por Germano Rigotto
O Banco Central (BC) anunciou, na última semana, a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros da economia no mesmo patamar em que estava, isto é, 14,25%. A notícia foi recebida com surpresa por alguns setores e especialistas. Basta ver que, segundo uma pesquisa prévia feita pela agência internacional Bloomberg, 49% dos economistas ouvidos apostavam que haveria uma subida de meio ponto percentual. A manutenção era esperada por apenas 26%.
O estranhamento decorre do viés de alta que vinha ocorrendo seguidamente nos últimos meses. Ou, quando a crítica teve um tom mais questionador, quase sempre foi possível perceber interesses especulativos embutidos na análise. Parte interessada na alta, portanto. Mas até setores do mercado financeiro, mesmo ligados a bancos, receberam bem o encaminhamento.
A medida foi acertada. E, não por outro motivo, foi saudada pela maioria. Ora, a economia não pode ser controlada apenas pela política de juros. Isso é ilusão. O mercado precisava de uma sinalização de retomada – desde que isso ocorresse com responsabilidade, como foi o caso. Havia quase que um consenso de que, com um novo aumento dentro do cenário recessivo atual, a situação poderia ficar ainda mais grave.
Não há risco de descontrole da inflação no horizonte. Pelo contrário, o consumo vem caindo consideravelmente. Se é verdade que o Brasil precisa de um freio de arrumação, também é verdade que o setor produtivo não pode minguar. Com o consumo já em retração, com certeza a política monetária não pode ser a única ferramenta para trazer a inflação para o centro da meta. Os preços administrados, ligados ao próprio governo, estiveram na raiz do aumento da inflação nos últimos meses. Isso a taxa Selic não resolve. O mercado precisa manter oxigênio para um mínimo de subsistência e competitividade.
Claro que o Banco Central não pode ceder ao excessivo intervencionismo do governo. Tampouco o governo deve cair na velha esparrela, já utilizada tantas vezes, de fazer manobras e maquiagens para fins de agradar a opinião pública ou determinados setores. A propósito disso, não agiu bem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ao emitir uma carta na véspera da reunião do Copom. Ele, sempre tão discreto e equilibrado, não podia ter lançado mão de tal estratagema. Não combina com a liturgia da instituição.
Mas manter os juros não significa que a economia irá bombar de imediato. Todavia, dá um lastro, mesmo que pequeno, para um pouco mais de tranquilidade. Ou, dito de outro modo, um pouco menos de esgotamento. Não é novidade para ninguém o nível de endividamento das famílias, empresas, governos e instituições. Meio ponto percentual a mais na taxa básica representaria um grande custo, em efeito cascata, para todas as áreas. E, com o aumento do Custo Brasil, mais perdas de mercado. Logo, mais desemprego e mais recessão.
De qualquer modo, ainda há um longo caminho pela frente. Ano após ano, por exemplo, os gastos públicos seguem crescendo. O exagero não está apenas no número de ministérios, mas no tamanho de toda a estrutura estatal, que é desproporcional à quantidade e à qualidade do serviço prestado à população. A máquina estatal foi inchando a tal ponto que a despesa foi superando a receita, levando à ampliação da carga tributária. Basta ver que a soma de tributos, que montava 25% do PIB em 1991, está hoje na faixa dos 34%. Desde lá, a despesa cresce acima da evolução da economia e da renda nacional. E esse aspecto ainda não foi mexido de maneira frontal.
Se há muito por arrumar (dentro do governo), há muito a não desarrumar (na sociedade). Uma das maiores virtudes do Brasil é a sua capacidade produtiva, que se materializa por meio de um povo trabalhador, miscigenado e criativo. Nada, nenhum tipo de plano, seja econômico ou social, dará certo se desprezar toda essa força produtiva. Não se pode tirar mais oxigênio do país que dá certo. Vale aquela máxima de que, quando o governo não pode ajudar, pelo menos que não atrapalhe tanto. É o caso. O Banco Central foi sensato. Mas acompanhemos as cenas dos próximos capítulos.




