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31.08.2015

Agricultura brasileira: vocação e protagonismo

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Começou em Esteio/RS, na Região Metropolitana de Porto Alegre, a 38ª edição da Expointer, uma das maiores feiras agropecuárias do Brasil. O evento conta com exposição de 151 raças de animais, show de máquinas e implementos agrícolas, desfile de campeões, competições, julgamentos e leilões, feira de agricultura familiar, palestras técnicas e painéis de debate, além de um ambiente produtivo para cultivar relações e fazer negócios. É um mundo à parte diante do cenário de crise econômica em que se encontra o país.

Essa feira gaúcha repete o fenômeno de diversas outras que ocorrem Brasil afora. De porte semelhante ou até mesmo menor, esses encontros do meio rural confirmam que o campo neste momento é o principal sustentáculo da economia brasileira. Os números do agronegócio brasileiro são impressionantes. Quase metade das nossas exportações vem do campo. O PIB da agricultura é de cerca de R$ 1 trilhão, o que representa em torno de 20% da economia brasileira. Entre 25 e 30 milhões de pessoas trabalham direta ou indiretamente com o agro, um total de 30% do pessoal ocupado do país. A produção de grãos da safra 2014/2015 deve chegar a 204,5 milhões de toneladas, com aumento de 5,6% (ou 10,9 milhões de toneladas a mais) em relação à safra 2013/2014. A produção de soja deve alcançar 96 milhões de toneladas, 11,5% a mais que a safra passada. Já o milho de segunda safra chegará a 49,4 milhões de toneladas, ganho de 2% em relação a 2013/2014. Não é por nada que estamos entre os maiores produtores de alimento do mundo.

Claro que nem tudo são flores. Segundo dados da revista Exame, apenas 15% das fazendas possuem sistema próprio de armazenagem de grãos. O percentual de perda no mercado de grãos na pré e pós-colheita é de 10%, considerado alto em relação à média mundial. A produção de soja vem crescendo 6% ao ano, enquanto a capacidade de armazenagem aumenta apenas 4%. Já a área de plantio, 2,8%. Isso indica crescimento da produtividade, mas também o aumento do déficit de áreas para estocar a cada ano. Os gargalos de logística e infraestrutura formam uma lista enorme. A saída de uma tonelada de soja do Mato Grosso para a China custa 185 dólares. Da Argentina, 102 dólares. Dos EUA, 71 dólares.

A agricultura não está imune, portanto, ao fenômeno do Custo Brasil. Nosso principal adversário está dentro de casa. É um mal que está levando à desindustrialização do país. Tem a ver com uma infraestrutura insuficiente, juros altos, carga tributária elevada e complexa, um modelo administrativo burocrático e procrastinador e uma adversidade generalizada para a atividade de empreender. Isso sem falar na competição muitas vezes desleal com produtos estrangeiros, que ingressam sem a devida regulamentação de concorrência. Nosso agro, portanto, para confirmar seu protagonismo, precisa vencer duas vezes: aqui e lá fora.

A cadeia evoluiu muito nos últimos anos. Saímos de um modelo rural arcaico para a mecanização da produção e a modernização da gestão, inclusive no ambiente da agricultura familiar. Porém, ainda vivemos o desafio da agregação de valor. Vendemos muito produto in natura, com pouco valor agregado. A nossa baixa industrialização transfere parte do potencial de rentabilidade para fora do país, perdendo oportunidades de gerar mais renda e emprego aqui mesmo.

De qualquer modo, feiras como a Expointer mostram que o Brasil não deve descuidar do seu principal motor econômico. É um setor para avançar, jamais para retroceder. Os progressos havidos nas décadas anteriores, mesmo que animadores, ainda são apenas indiciários de tudo o que podemos render. Temos uma vocação inata para produzir alimentos. Se destravarmos nossas amarras internas, a agricultura tem tudo para reforçar ainda mais a vocação e o protagonismo brasileiro na área.