23.03.2015
O Brasil precisa seguir em frente
por Germano Rigotto
Toda crise de grande porte tem, além do seu efeito propriamente dito, outro que é secundário, mas não menos importante: o psicológico. O estrago do segundo efeito não costuma ser menor do que o primeiro. Um age nos setores mais diretamente atingidos pela recessão em curso. O outro repercute em todo o ambiente econômico, mesmo em quem não tenha ligação direta com o nó da questão.
É o que estamos vivendo agora no Brasil. Setores como os de óleo, gás e construção civil estão no epicentro da atual crise. Os problemas na Petrobrás ajudam a explicar a relação de causa e consequência. Mas ás áreas circundantes, e mesmo as não tão próximas, se baseiam na velocidade das principais. Mesmo que seja uma relação distante na cadeia produtiva, o produtor mais inicial acaba sendo afetado.
Basta ver o que acontece em regiões portuárias do país. Com a diminuição do investimento em plataformas oceânicas, sondas e petroleiros e com a queda no movimento comercial de exportações, os efeitos não ficaram restritos aos fornecedores diretos da estatal. O restaurante que ficava na frente de uma fábrica que fechou, por exemplo, foi diretamente afetado – e também fechou. O mercadinho próximo passou a vender menos. As casas construídas agora estão ociosas. Voos diminuíram. Taxistas têm menos viagens. A prefeitura arrecada menos. E por aí afora… É o tal círculo vicioso.
Mas essas referências, que ainda são diretas ou indiretas, também não se encaixam no efeito psicológico da crise – que vai ainda mais longe. Esse é mais difícil de ver ou identificar. É uma nuvem de temor que atinge grande parte daqueles que estão pensando em investir, sejam de pequeno, médio ou grande porte. É o tal “por via das dúvidas” que transfere o investimento para o próximo ano. É o medo antecipado de quem viu um concorrente periclitar. É o susto de quem sente decair em algum grau sua taxa de lucro. É também aquele que só ouve falar, mas, mesmo assim, prefere ser prudente.
É por isso que toda a crise tem efeitos múltiplos, visíveis e invisíveis, racionais e emocionais. O Brasil, para agravar essa sensação, ainda vive forte instabilidade política. Alguns setores da oposição se aproveitam da situação para, irresponsavelmente, dar contornos de quebra constitucional. O governo, por outro lado, demonstra incapacidade para reaglutinar sua base parlamentar e passar otimismo à nação. Já não conseguiu fazê-lo com base no jogo de cargos e espaços, muito menos está viabilizando uma pauta nacional.
Assim como um cenário de guerra, o de uma crise política e econômica pode mudar a qualquer momento – para pior ou para melhor. O fato é que há um imenso Brasil que continua andando e segue em perfeita normalidade. Não podemos ofuscar, em nome dessa passagem, os demais setores da economia e da vida social do país. Basta ver o agronegócio, para ficar em apenas um item, que projeta uma safra recorde para 2015. O país segue em frente e não pode parar. Isso não significa minimizar a crise. Pelo contrário: é um alerta para que, tão mais cedo quanto possível, ela deixe de ser a única pauta. Caso contrário, levará consigo, ladeira abaixo, outras importantes bases da nossa estabilidade.




