19.01.2015
Por uma pátria efetivamente educadora
por Germano Rigotto
O governo federal tenta trazer a agenda da educação para o centro da pauta política nacional. Embora não funcione por si só, a iniciativa é louvável. Desde o primeiro discurso, ao sinalizar para essa centralidade, a Chefe do Executivo organiza o governo para dentro e expõe-se à cobrança da opinião pública. Há, então, uma prioridade – que deve ser observada por toda a equipe e sobre a qual a população poderá claramente aferir.
O Brasil, nas últimas décadas, buscou enfrentar o problema do analfabetismo e da assiduidade. Hoje ainda há crianças longe da escola, mas as causas estão mais ligadas a desordens sociais do que ao alcance do aparato estatal em termos de escolas e professores. Apesar de ter mais de 13 milhões de analfabetos entre as pessoas acima de 15 anos, o país vem conseguindo reduzir essa taxa gradativamente.
No ensino superior, é notável o avanço havido nas últimas décadas. O acesso ficou facilitado às populações de menor renda, aí incluídas as famílias de classe média. Também melhoraram os créditos e os mecanismos de financiamento. O ingresso de novos grupos à universidade foi um produtivo canal de ascensão social e econômica de muitas pessoas. O próximo passo é, para além de medir a qualidade, implantar mecanismos que efetivamente melhorem a educação de terceiro grau.
O ensino técnico também evoluiu, especialmente na possibilidade de ingresso. Diversas escolas e institutos com essa finalidade foram inaugurados em todo o país. Além disso, com programas como o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), o aprendizado focado no trabalho reinseriu diversas pessoas no mercado. As boas taxas de empregabilidade tiveram relação com essas iniciativas.
Tais cenários pontuais, todavia, não escondem diversos gargalos de fundo que continuam permeando o cenário da educação brasileira. O principal deles diz respeito à qualidade do ensino. Se hoje nossas crianças vão à escola, o que é positivo, muitas vezes elas sequer estão aprendendo a ler e a escrever adequadamente, o que é muito preocupante. Isso para dizer o mínimo. Os métodos que estão sendo utilizados chegam a produzir estudantes sem base de conhecimento, problema que começa no ensino fundamental e vai até o médio. Dentre as prioridades na educação, sem dúvida, a número um tem que ser o ensino fundamental.
A valorização dos professores ainda é uma carta de intenções. Embora tenha aprovado um piso nacional, o governo federal não garantiu aos estados uma fonte capaz de fazer cumprir essa legislação. O resultado é que não há um padrão salarial e nem mesmo de condições na atuação do magistério. As carreiras são diferentes e os ambientes muitas vezes são precários. Isso sem falar no perigo social que correm os professores, quando viram pessoalmente um anteparo entre os alunos e seus problemas familiares e existenciais.
Então, se há pontualidades positivas na educação brasileira, também há as negativas – e aos montes. A força com que o governo começa a priorizar a área não é maior do que o desafio que ele tem pela frente para colocar em prática essa escolha. O nó a ser desatado envolve reforçar financiamento, gestão, valorização dos professores, pedagogia, conteúdo, equipamentos, infraestrutura, além de uma série de medidas que nos coloquem mais próximos dos resultados de países desenvolvidos. Que a pátria seja educadora, portanto, mas para além das intenções.




