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15.12.2014

Perigos vindos de fora

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Em mudança de ano e em época de transição de governo, é comum que as atenções se voltem para o ambiente interno. E, no caso do Brasil, com muitos fatos se sobrepondo, era até mesmo natural que isso acontecesse. Porém, num mercado globalizado, os episódios não acontecem mais de maneira isolada. Ninguém pode considerar-se numa ilha, nem mesmo as economias fechadas. É preciso, sempre, seja em tempo de bonança ou de dificuldade, agir tendo em vista o cenário internacional.

Nesse sentido, afora as dificuldades domésticas que já se prenunciam para 2015, nosso país terá que lidar com cenário de incertezas no ambiente global. O petróleo, que passa por um cenário de queda de preços, está no topo das preocupações. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) diminuiu sua produção em novembro, baixando para 30,5 milhões de barris por dia. E a previsão para o próximo ano é ainda mais baixa, chegando a 28,9 milhões de barris por dia. Essa queda decorre justamente da baixa cotação do produto.

Na última sexta, os preços caíram 3% ou mais, chegando à maior baixa dos últimos cinco anos. A Agência Internacional de Energia (AIE) previu preços ainda menores, com uma procura mais fraca em 2015. Essa projeção negativa impulsionou o colapso nos preços. As Bolsas da Ásia e do Pacífico já estão respondendo, a maioria delas fechando em baixa. A preocupação dos investidores é que produtores e importadores enfrentem dificuldades com a queda no faturamento, gerando um efeito em cascata.

Além do nervosismo na área do petróleo, há uma expectativa do mercado em relação à possibilidade de mudança na política monetária dos Estados Unidos, que ampliaria o espaço para altas na taxa de juros no próximo ano. Autoridades do Federal Reserve se reúnem durante esta semana para comunicar o novo posicionamento. A economia do país tem se fortalecido de maneira rápida, inclusive com geração de empregos. Por isso mesmo, para muitos o entendimento é que 2015 é o momento adequado para começar a apertar a política monetária, que vem há seis anos com taxas perto de zero.

Outro dado que mexe no cenário externo é a previsão de queda no crescimento da China. O gigante asiático deve desacelerar o aumento do PIB para 7,1% em 2015. Mesmo com uma demanda global mais forte, o país sofre com o impacto do enfraquecimento do mercado imobiliário. Os resultados da indústria e dos investimentos também ficaram abaixo do esperado.

Ainda há diversas incertezas sobre a estabilidade econômica da Europa. Com o agravamento do quadro econômico e político de países como a Grécia.

Portanto, não bastassem os problemas locais – e temos aos montes –, contornos externos indicam um cenário turbulento para o próximo ano. A Petrobrás precisará redescobrir-se em termos de posicionamento, recuperando sua credibilidade aqui e fora daqui. O ajuste fiscal será um remédio inevitável a ser aplicado pela nova equipe econômica. Os responsáveis por conduzir esse setor são competentes e experimentados, mas precisarão de blindagem política para cumprir suas missões.

É hora de reapertar os parafusos, trocar o óleo, arrumar a casa. Enfim, independente da figura retórica que queiramos usar, o certo é que nossa economia está precisando de ajuste. E isso não deve ser encarado como mero pragmatismo contábil, mas como condição para manter a estabilidade e ampliar nosso potencial de crescimento.