3.11.2014
Os difíceis desafios da economia
por Germano Rigotto
O anúncio do aumento de juros foi a primeira – e amarga – medida depois do período eleitoral. Há um consenso, mesmo entre os analistas mais alinhados com o governo, de que a economia brasileira passa por uma situação difícil. Claro que nossas potencialidades são superiores às deficiências. O problema é que diversos gargalos foram se acumulando – muitos de agora, outros de décadas. E, nesta quadra da história, todos se somam à espera de uma solução.
A alta da taxa Selic gerou efeitos positivos imediatos no mercado financeiro. Entretanto, embora justificável sob o ponto de vista pragmático, a elevação pesa na economia real. O ambiente de negócios, que já está retraído e terá um desempenho pífio em 2014, tende a frear ainda mais. Não por outro motivo que diversas agências já estão revendo, para índices ainda menores, nossa expectativa de crescimento para o ano que termina.
O quadro político se mostra arredio. Apesar da legítima vitória eleitoral que a presidente Dilma obteve nas urnas, a oposição claramente se fortaleceu. Uma campanha agressiva e acirrada, de parte a parte, enseja um rescaldo ainda mais tenso. As primeiras votações do Congresso mostram, mesmo entre os aliados, uma disposição para o enfrentamento com o governo. Portanto, um gargalo político também se formou. E ele repercute diretamente na economia.
Voltemos a ela. Na última semana, tomamos conhecimento de um rombo fiscal histórico. O governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) registrou um déficit primário de R$ 20,3 bilhões em setembro. A tradução disso é: deterioração das contas públicas. Ou: o governo está gastando mais do que arrecada. Conforme já escrevi aqui diversas vezes, o tamanho do gasto estatal não foi devidamente enfrentado. Nossa República se porta com ares de Brasil Colonial, abastecendo o patrimonialismo que se incorporou na cultura política nacional.
Não há espaço para diminuição de investimento em infraestrutura e em outras áreas essenciais. Pelo contrário: a demanda represada é por maior ativação de obras. No setor de energia, por exemplo, o governo está com uma dívida superior a R$ 50 bilhões junto a geradores e distribuidoras. E vem aí, inevitavelmente, um aumento de preços na área, com efeito cascata em todas as outras. Idem para a gasolina.
Alinhar esses preços represados gera um efeito contrário no controle da inflação, que está fugindo da meta. A população sente nas gôndolas dos supermercados que muitos preços estão subindo. E é provável que tal sensação se amplie na medida em que essas novas elevações forem liberadas. Ou seja: arruma de um lado, desarruma de outro.
O governo ainda não apresentou uma clara agenda para tirar a economia desse enrosco. O nome escolhido para o Ministério da Fazenda será uma sinalização importante, mas não suficiente. A presidente precisará montar todo o seu governo até o final do ano. Cederá à mera repartição de espaços aos partidos ou adotará um novo estilo, pagando o preço político dessa opção?
A agenda da Câmara e do Senado ainda reserva o fim da contribuição de inativos, diversos aumentos salariais, o Orçamento Impositivo e o aumento do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), dentre outros pequenos-grandes desafios. Nesse ínterim, também se definem os presidentes das duas casas congressuais. Vem aí a CPMI da Petrobras. A proposta de renegociação da dívida dos estados entrará em votação. São todos assuntos com ponto e contraponto, nenhum deles com fácil fluência.
Uma pauta de reforma tributária, posicionada de maneira firme e consistente, poderia cumprir esses dois objetivos: ser um sinal e, ao mesmo tempo, uma ação de propulsão produtiva do país. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) pode contribuir muito nesse sentido. Teremos um final de ano conturbado. A nova gestão precisará dar sinais mais concretos. Além de mostrar que está ciente da gravidade do momento, precisará efetivamente adotar as medidas necessárias. Governo novo, ideias novas? Agora é a hora de mostrar.




