10.11.2014
Estabilidade financeira também em casa
por Germano Rigotto
Em todos os meus espaços, não é de hoje, tenho procurado formar opinião sobre a importância da educação financeira. Esse também é um dos compromissos do Instituto Reformar. Trata-se de difundir a consciência sobre conceitos, possibilidades, riscos e informações nos diferentes aspectos da economia pessoal. O objetivo é fazer com que os indivíduos, eles mesmos, tenham condições de avaliar seus gastos, investimentos, fluxos, enfim, de fazer uma gestão adequada de suas finanças.
O Banco Central também possui um programa nessa direção: é o Cidadania Financeira, que promove a informação sobre direitos e deveres do cidadão nessa área. Além de educar, o projeto quer proteger e incluir financeiramente a população. Um das frentes trata da gestão de finanças pessoais, com foco no hábito de poupança e na responsabilidade no uso do crédito. Outra abordagem prevê tratar dos diferentes aspectos do relacionamento entre o cidadão, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) e as instituições bancárias e afins.
A iniciativa é oportuna. Oportuníssima. Estudo do banco Credit Suisse, divulgado há alguns meses, mostrou que o consumidor brasileiro é afeito a comprar supérfluos e muito pouco acostumado a fazer poupança. Mesmo aqueles com renda média e baixa são mais propensos a gastar com itens de grife, em comparação com outros países emergentes como Rússia, China, Índica, Indonésia, Egito e Arábia Saudita.
Um dado é esclarecedor nesse sentido: do total de entrevistados com salário inferior ao correspondente a US$ 1 mil, 62% disseram-se dispostos a adquirir roupas ou tênis de marca no ano seguinte. O percentual é maior do que o verificado nas demais nações analisadas. É o desenho, como se vê, de uma cultura de consumo exacerbada, o que explica, pelo menos em parte, alguns problemas que estão no cotidiano da economia pessoal de muitos brasileiros.
O estudo também constatou que nossa população consegue poupar cerca de 10% do que ganha. Já os chineses, por exemplo, guardam 31%. Também lideramos a lista dos que querem financiar carros: 68% diziam ter planos de fazer isso nos próximos 12 meses. A tendência antevista pela pesquisa se confirmou: o endividamento da população aumentou e, da mesma forma, o inadimplemento. Além disso, a poupança não aumentou. O resultado é que temos uma grande camada de pessoas suscetível ao ambiente do crédito, sem qualquer espécie de autoproteção.
Claro que uma das fortalezas brasileiras é a capacidade interna de consumo. Mas esse atributo pode sofrer justamente com o excesso do seu uso. Quanto mais endividadas, quanto mais inadimplentes, quanto menos pouparem, mais vulneráveis ficam as famílias. E, diante de qualquer turbulência no cenário, podem pagar um preço muito mais caro do que a mera pecúnia. Uma série de ônus morais e comportamentais também decorre disso.
O desafio está em encontrar o equilíbrio até mesmo cultural entre gastar e poupar. Entre diferenciar o supérfluo do essencial. Entre perceber o que é urgente e o que pode esperar um pouco mais. Entre o que é mero apego estético ou social e o que é item de necessidade e de qualidade de vida. Ou seja: perceber e incorporar a finitude do dinheiro. E, a partir disso, antever problemas e poupar, tanto quanto possível.
Estamos falando até mesmo de educação infantil. Especialistas em infância atestam que a noção de limites deve alcançar também os aspectos relacionados ao dinheiro. Num tempo em que a sedução do consumismo ronda o cotidiano, é prudente não deixar que a sede por ter protagonize a vida dos filhos. E esse é um risco não apenas para os mais abastados, senão que para a classe média. A ânsia de tudo prover, se não for bem conduzida, pode gerar uma falsa sensação de comodismo, vaidade e isolamento. E eis que as boas intenções dos pais tendem a criar uma desordem moral, um desvirtuamento.
Muitas famílias já têm despertado para a prática de tratar as finanças pessoais com um olhar mais criterioso. É positivo que o Banco Central e outras instituições façam o mesmo. As empresas também deveriam investir mais nisso. Uma cultura de educação financeira precisa começar a ser pulverizada através de organizações civis, empresas e até mesmo do ensino formal – tese que tenho defendido. Na esteira de tantos assuntos que compõem o currículo escolar, certamente há espaço para essa abordagem. A estabilidade financeira também precisa ocorrer dentro dos nossos lares.




