17.11.2014
Corrupção: hora de virar o jogo
por Germano Rigotto
A corrupção age com pelo menos duas grandes dinâmicas: a do sistema e a das pessoas. A primeira é aquela que se embrenha nas brechas legais para, por dentro dela, estabelecer vantagens pecuniárias de todos os portes. A segunda é aquela que, por dentro ou por fora das regras de jogo, tem o ímpeto pessoal como principal marca. São os atos mais rasteiros, não menos deploráveis do que os do primeiro tipo. Envolve especialmente as pequenas – e ainda assim gravíssimas – corruptelas do cotidiano.
Ambas têm dois polos: o ativo e o passivo. Isto é, o que corrompe e o que é corrompido. São todos corruptos. Não tem vezo ideológico, não tem exclusividade partidária, não tem monopólio privado ou estatal. A corrupção brasileira tem explicações na cultura patrimonialista em torno da qual se organizou nossa República. Mais do que tudo prover, o Estado é visto como um ente sem dono. Um bem de todos que, aos olhos desavisados, é um bem de ninguém. O muito que todos perdemos se transformou, equivocadamente, no pouco que não percebemos.
A Operação Lava Jato está colocando a mão no que parece ser um dos maiores escândalos de corrupção da história brasileira. Com a expertise da Polícia Federal, apoiada pelo Judiciário e o Ministério Público, o país está assistindo a uma série de prisões dos chamados “peixes grandes”. Figuras importantes do ambiente empresarial e político foram presos e serão convidados à delação premiada. Ou seja: para além do que já foi investigado e descoberto, esses potenciais réus poderão abrir ainda mais seus segredos. O sistema está funcionando, ao menos nesse caso, na estratégia de combate. E é preciso que seja assim mesmo: com profissionalismo, inteligência e eficiência. Sem trégua.
Estamos numa quadra histórica em que não pode mais haver condescendência, complacência e retrocesso nesse tipo de assunto. O recado da população, seja nos manifestos das ruas ou nas eleições, foi muito claro. Não há mais espaço para naturalizar a corrupção como parte da paisagem nacional. É preciso dar um basta. E essa missão cumpre a todos os poderes, setores, classes sociais, matizes ideológicos, partidos, instituições. Todos.
Que a política naturalmente componha os debates sobre o assunto, mas que as decisões institucionais não sejam pautadas por ela. Chegou a hora de rever o sistema e as pessoas. De rever as práticas. De varrer a corrupção do ambiente público e privado, mas sem exageros ou perseguições. De estabelecer relações mais corretas e transparentes. Queremos para o país o mesmo que queremos para nossas famílias. Precisamos virar esse jogo e vencer a guerra da corrupção, mesmo sabendo que perderemos algumas batalhas. Essa pode ser a verdadeira independência do berço esplêndido em que o Brasil adormeceu.




