11.08.2014
Entre a civilização e a barbárie
por Germano Rigotto
Os conflitos na Faixa de Gaza são algo inconcebível para o atual estágio civilizatório da humanidade. É triste perceber que o homem ainda falece, sucumbe e se deteriora por motivações que deveriam ser secundárias em relação à dignidade do outro. O sangue corre por motivos que são inexplicáveis, seja pela frieza da razão ou pela quentura da emoção.
Mais do que a guerra entre os envolvidos, assusta perceber que a humanidade, através de seus mecanismos institucionais, não está sendo capaz de evitar que a situação recrudesça de tempos em tempos. Nem países mais influentes, tampouco líderes religiosos, sequer a ONU foi capaz de dar um fim a isso. As tentativas de mediação falharam.
Sobre a ONU, a propósito, o caso ressalta uma constatação perceptível em outras guerras, sejam atuais ou recentes: a entidade perdeu sua força na tarefa de construir e manter a paz mundial. Por motivos que vão de equívocos de seus próprios posicionamentos até o enfraquecimento provocado por alguns países, a influência da organização diminui cada vez mais.
É preciso, portanto, que a ONU repense seu papel. Não pode virar um órgão meramente figurativo, lançando notas oficiais que não têm efeito prático. Nem mesmo suas sanções são observadas. Um dos principais sentidos para existir é promover diálogo e acordos entre países, especialmente em estágio de pré-conflito ou conflito armado. Se isso não está acontecendo, algo está errado.
Os Estados Unidos e os membros da União Europeia também não estão conseguindo cumprir esse papel, apesar da influência política e econômica que possuem no mundo. Basta ver as batalhas em curso, como esta entre Israel e Palestina, ou o ataque a cristãos no Iraque, ou as batalhas que recrudescem no Leste Europeu. Nem ONU, nem EUA, nem UE, sigla alguma, represente o que for, está conseguindo alcançar sucesso no posicionamento de conciliação.
A estratégia diplomática do Brasil, que nos últimos anos procurou ser mais protagonista, não serviu para mostrar qualquer espécie de ascensão em situações desse gênero. Tivemos alguns avanços nas décadas recentes, tanto no aspecto comercial quanto no político. Porém, nosso campo de ação ficou muito mais voltado à América Latina e a nações menores.
Apesar desses resultados negativos, o mundo não pode parar em seu esforço pela paz. Neste final de semana, os jornalistas Túlio Milman, brasileiro-judeu, e Soraia Hanna, brasileira-palestina, em um texto conjunto, falaram sobre a convicção de que é possível conversar. Revelando sofrimento com o que acontece no Oriente Médio e reconhecendo suas próprias diferenças, ambos clamaram por um convergente desejo de pacificação na região. Condenaram os radicais dos dois lados, clamando pelo bom senso, pela tolerância e pela necessidade de um futuro melhor para todos, sem radicalismo.
Esse desejo é compartilhado pela maioria da população planetária. Mas o mundo não está fazendo acontecer. E isso é o mínimo que podemos querer da humanidade no ano de 2014. Nossas diferenças jamais serão superadas, e isso compõe a própria riqueza da diversidade da nossa espécie. Compõe nossa liberdade intelectual. Mas nada disso justifica a guerra, a barbárie, a destruição de vidas. A civilização há de prevalecer.




