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28.07.2014

Queda da indústria: um desafio urgente

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A indústria do Rio Grande do Sul fechou 6,6 mil vagas em dois meses. A notícia é gaúcha, mas se reproduz em todo o país. E dá conta de um problema cada vez menos silencioso em nosso cotidiano: a desestruturação do parque industrial brasileiro. Por ser um processo gradativo, o fenômeno foi pouco percebido até aqui. Agora, porém, ele vai tomando evidências sobre as quais vínhamos alertando há bastante tempo.

Novas medidas foram anunciadas recentemente, mas elas fazem parte de um mesmo ciclo de iniciativas pontuais. Atacam os problemas conjunturalmente, mas não encaminham uma solução de futuro, para frente, estrutural. Estamos falando de planejamento, ou melhor, da falta dele. Estamos falando de um país que evoluiu muito, mas que pode ir bem mais longe.

Enfrentamos uma defasagem de décadas em termos de planejamento.  Enquanto a China, por exemplo, tem uma política industrial para 30 anos, aqui não projetamos os próximos três. Não é lacuna só deste governo, mas uma omissão que se repete em todas as últimas gestões. Não temos uma política industrial consistente, que perpasse mandatos presidenciais e seja uma arquitetura do que queremos. É por isso que estamos sempre às voltas com medidas paliativas. Cuidamos do micro, o que é importante, mas não estamos pensando no macro, que é ainda mais valioso.

As iniciativas de reação são meros espasmos. Muitas vezes acertam o alvo para o semestre, mas nada além disso. A questão é que esses pequenos remédios estão se mostrando cada vez mais insuficientes. Não se combate um mal grave tratando apenas de seus efeitos. O Brasil precisa colocar-se diante das causas da desindustrialização, e já está num estágio de maturidade política e econômica suficiente para fazer esse combate.

O nome da principal doença é Custo Brasil, que envolve carência de infraestrutura, carga tributária exorbitante, juros elevados, burocracia empedernida e câmbio desestimulante. Esses grandes nós geram um efeito em cascata. E, somados à falta de planejamento, conduzem nossa indústria a essa situação periclitante.

Estamos reféns das exportações de commodities. E que sorte a nossa de termos um setor primário tão vasto e competente. Porém, nossa balança comercial está excessivamente calcada nessa área, sem uma diversificação que garanta estabilidade e maior rendimento.

Nossa movimentação se dá ainda sob a lógica dos ciclos de outrora: do Pau Brasil, da Cana de Açúcar, do Ouro, do Café, da Borracha. Precisamos continuar vendendo minerais e alimentos, mas ao mesmo tempo estimular novas vocações e agregar valor. A exportação de produtos semielaborados e industrializados é muito baixa. E, apesar da capacidade do agronegócio, nossos indicadores vêm se mostrando deficitários nos últimos anos. Estamos perdendo terreno no comércio internacional. A baixa competitividade está afetando diretamente nosso grande potencial produtivo.

Tem outro aspecto que preocupa em ano de eleição. Noto que os candidatos a presidente da República e suas equipes ainda não compreenderam a real dimensão desse problema. Pelo menos até agora, de tudo o que está disponível, as campanhas não pautaram o assunto. Ou, quando o fazem, tratam apenas de relance, com propostas teóricas, sem aplicabilidade.

Reformar estruturalmente e planejar o país. São duas tarefas gigantes, mas não maiores do que a própria necessidade de cada uma delas. E não podem mais ser adiadas. A indústria é um tambor de ressonância do país. Ela não se esgota sozinha, senão que leva consigo empregos, renda e desenvolvimento. Precisamos inverter esse clima e essa realidade. Sem mais esperar.