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30.06.2014

Contradições expostas do sistema político

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Encerram hoje as convenções partidárias, tanto as nacionais quanto as estaduais. Em seguida, começa a campanha eleitoral propriamente dita. É tempo de deixar que a política tome o placo. É tempo de pensar sobre o futuro. De fazer com que as conversas de família ou da roda de amigos se abasteça dessa pauta. De agora até outubro, todos os brasileiros têm tempo para refletir sobre o voto. É um exercício individual valioso, que não pode ser delegado, que não pode ser refutado, que não pode ser descompromissado.

A filiação em partidos ou a candidatura não são as únicas formas de participação. E participar não significa legitimar tudo o que está aí. Pelo contrário: a consciência política mais valiosa é aquela que se dá com crítica, com inconformismo, sem subjugação ou dependência. Tratar de política não significa reproduzir padrões. Mas envolver-se no assunto, ao menos de maneira mediana, é necessário para um processo de amadurecimento e qualificação. E isso não depende dos políticos, mas dos cidadãos.

Precisamos reformar o país: essa necessidade está mais do que evidente. Só que tal anseio deve vir de baixo – da opinião pública em direção às instituições. Caso contrário, continuaremos navegando nos mares conformistas do governismo, do fisiologismo, do carguismo, do clientelismo, do pragmatismo e dos muitos “ismos” que têm obscurecido o padrão político brasileiro. As convenções expuseram justamente isto: bem diferente do que pediu o povo nas ruas, as burocracias políticas continuam muito distantes de uma representação adequada da sociedade. Ressalvo, claro, as exceções.

Os arranjos partidários, de Norte a Sul, expuseram a essência do nosso sistema político, evidentemente falido e ultrapassado. Grande parte das decisões ocorreu nas cúpulas, em reuniões fechadas, distantes dos verdadeiros desejos das bases. Acordos de dirigentes foram levados à mera legitimação de convencionais, depois de já estarem selados. Governistas viraram subitamente oposicionistas, e vice-versa, com uma naturalidade constrangedora. A coerência dos partidos nacionais se esvaziou ainda mais. Se antes já não existia no plano programático e ideológico, tampouco resistiu ao plano eleitoral.

A política brasileira só vai melhorar quando as regras do jogo melhorarem. O sistema que está aí joga contra essa evolução. Ele afasta bons quadros. Precisamos aproximar o eleitor do eleito e acabar com as emendas individuais, que fomentam uma relação espúria de poder. A concentração de poder e recursos na Presidência da República há muito tempo chegaram a um ponto insustentável, gerando uma série de efeitos contraditórios. Há que se rever a quantidade exorbitante de partidos, muitos dos quais são mero balcão de negócios em período eleitoral. Chegou a hora de desenvolver uma legislação que movimente o ambiente democrático dos próprios partidos, com regras claras, fazendo com que as bases, no lugar de apenas figurar, realmente decidam. Enfim, há um sem-número de reformas a fazer, pequenas e grandes, mas todas elas decisivas para colocar a política e o desenvolvimento do país em outro patamar.

Não se resolvem os problemas da política por meio do apolitismo.  A visão apolítica só gera mais inconsciência, ignorância e submissão. Precisamos é de mais política, mais participação, mais diálogo social sobre o tema. Por isso que sempre incentivei candidaturas, especialmente as de renovação. E jamais generalizei a crítica em relação a partidos e pessoas. Mas, repito, essa não é tarefa apenas de partidários ou candidatos, senão que de todos os cidadãos de bem.

Façamos da eleição, portanto, um tempo de otimismo. Otimismo crítico, em que impere a vontade de construir um novo Brasil. Continuarei na luta, mesmo não sendo candidato, em defesa das reformas estruturantes – a começar pela política. As contradições expostas durante este período pré-eleitoral só reforçaram o quanto devemos tocar essa mudança. Precisamos unir forças para qualificar a política, sem mais esperar.