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31.03.2014

As lições da história

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A passagem deste 31 de março, mais do que a temática do regime militar que se ergueu em 1964, faz pensar o Brasil – para trás e para frente, para o passado e para o futuro. Ao longo da história do país, tivemos diversos períodos de fechamento político. O Estado Novo, por exemplo, durou quase dez anos. A República Velha, antes disso, também foi marcada pelo centralismo administrativo dos coronéis. Basta ver que o voto feminino só passou a ser legitimado na década de 30. E o período militar foi o último, e longo, estágio de bloqueio democrático que vivemos.

Portanto, somos ainda jovens em termos de liberdade política. E muitas das contradições que ainda persistem são fruto exatamente disso. Herdamos problemas que têm origem no processo de colonização. Mesmo com os avanços que vieram depois, preservamos uma cultura patrimonialista que confunde o público com o privado. O país ainda tem nichos de coronelismo, onde a voz de um poderoso conduz seus subjugados. Temos dificuldade para modernizar as principais estruturais do Estado, pois as resistências, o establishment e o apego ao status quo são forças ainda muito influentes no cotidiano.

É verdade que alguns países próximos, como a Venezuela e até mesmo a Argentina, estão num estágio mais atrasado. Porém, nosso paradigma não podem mais ser esse. Precisamos olhar para as nações mais desenvolvidas, com um sistema testado e estabilizado por mais tempo. Ainda temos muito a melhorar. A impunidade é uma das maiores chagas a ser superada. Temos estruturas arcaicas e uma concepção de Estado que não combina mais com a diversidade social do país. A produção tem o custo Brasil como seu principal adversário. Enfim, há um sem-número de frentes de trabalho sobre as quais precisamos ir além.

Mesmo assim, a liberdade se impôs quase com unanimidade no país. São isoladas, e até mesmo caricatas, as poucas vozes que se levantam no sentido contrário – seja da extrema-esquerda ou da extrema-direita. O povo brasileiro, com um marcante viés criativo, não é dado a aprisionamentos em seu direito de opinar, de dizer, de reclamar, de empreender. Isso faz parte da identidade que fomos construindo. São cada dia menores as zonas de sombra. Os instrumentos de fiscalização dos governos ampliaram seu alcance. As leis e os mecanismos de transparência estão construindo uma nova realidade. O voto está solidificado como um direito formal do cidadão. Mais do que uma garantia constitucional, a liberdade democrática foi incorporada como um valor.

É inequívoco constatar que somos uma nação em evolução. E um país só consegue evoluir, no tempo em que vivemos, com o combustível da liberdade. Ditadura é travamento, é medo, é violência, é abuso. Um povo livre produz mais, cria mais, debate mais, reclama mais, melhora e faz melhorar. Que os excessos sejam tratados como tais, mas que esta conquista seja para sempre garantida e homenageada. As liberdades – de opinião, de imprensa, de manifestação, de associação, de iniciativa, de escolha política – são o principal insumo para os avanços que precisam vir. Afinal, é para frente que se anda, e esse é o destino que o Brasil deve traçar.