17.03.2014
É ano de olhar para frente
por Germano Rigotto
A sensação de saturação é praticamente unânime no ambiente econômico. E isso nem sempre é uma crítica ao atual governo, mas a constatação de que chegou o momento de o Brasil dar um novo upgrade em seu processo de desenvolvimento. Quem circula entre os atores do mercado produtivo, falando com empresários ou trabalhadores, detecta facilmente esses sinais de esgotamento do nosso modelo.
Eu disse esgotamento. Ou seja: não se está apontando o caos, tampouco uma visão derrotista do país – segundo a qual tudo está absolutamente errado. É equívoco comparar nossa situação com a Venezuela, por exemplo. Mesmo em relação à Argentina, temos bases muito mais sólidas. Mas é latente o diagnóstico de que o país travou. Chegou a um ponto em que, com os mecanismos de que dispõe, não consegue mais avançar satisfatoriamente. As soluções utilizadas nos últimos anos, quase todas de caráter conjuntural, não foram capazes de reposicionar a nação para um novo e significativo crescimento.
No meu livro “Para Além do Berço Esplêndido”, lançado há alguns anos, projetei justamente esse cenário. Eu queria estar errado, mas dizia não perceber um ambiente político para sairmos da zona de conforto em que nos encontrávamos. A leitura não era uma exclusividade minha, pois muitos especialistas diziam o mesmo. Eu sinalizava para a necessidade de, incorporadas as conquistas da estabilidade democrática e econômica, abrir novos caminhos de progresso estrutural. Mudar o Brasil ainda mais. Era, pois, preciso ir além.
Hoje esse acúmulo de frustrações chegou a um ponto preocupante – na política, na economia, na sociedade. As ruas pulsaram recentemente. Indicadores dos mais variados preocupam. E a política precisa dar a resposta. Não há outro caminho senão por ela. Os acordos que nos conduziram ao fim do regime militar e da inflação são inspirações para encontrar novos pactos, em sintonia com o nosso tempo. Não precisamos de unanimidade, mas de uma maioria comprometida a fazer acontecer. Chegou a hora de uma nova e profunda modernização do país. E o pressuposto é aceitar o diagnóstico, independente do campo partidário ou eleitoral em que estejamos.
Tudo o que não precisaremos na próxima eleição, diante desse quadro, é o debate meramente partidarista, ideológico ou de disputa de méritos. São temas plausíveis, mas não na perspectiva do Brasil que queremos para o futuro. Há momentos e ambientes para esse jogo retórico da política, porém, decisivamente, o momento não é este e o ambiente não é o da disputa eleitoral. Quem tiver real interesse na nação, precisará estabelecer um debate de programa de governo. Claro que não apenas isso, mas principalmente isso.
Como os candidatos pretendem – e se é que realmente pretendem – fazer a reforma tributária? E sob que parâmetros será sua aplicação? E em que prazo? Como pretendem mexer no pacto federativo, fortalecendo estados e municípios e relativizando a preponderância da União? Como irão comandar uma reforma política do início ao fim, que possa ser até mesmo derrotada no plenário do Congresso, mas que seja votada? Como será feito um novo desenho gerencial para a saúde pública, alcançando mais dignidade à população? Como será planejado uma mudança completa na qualidade da nossa educação, a partir, especialmente, do ensino fundamental? E para a segurança pública, qual a proposta os candidatos apresentam? A pergunta é: o que pretendem fazer de verdade?
Sabemos, portanto, tudo o que queremos e o que não queremos da próxima eleição presidencial. E, por mais que uma onda de pessimismo esteja tomando conta do ambiente político, creio que teremos bons nomes para escolher. Que cada um deles saiba honrar sua história. Que as discussões sejam feitas na linha dos programas, centradas no que realmente interessa à população. Não de maneira despolitizada ou tampouco despartidarizada, mas olhando mais para o futuro do que para o passado. Mais para as possibilidades reais do que para a retórica. Mais para o que falta fazer do que para o que foi feito. Um debate sobre o Brasil e suas potencialidades – é o que a nação espera do período eleitoral que se avizinha.




