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17.02.2014

Falta de chuva escancara gargalo da energia

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Claro que há explicações pontuais para os últimos apagões ocorridos no Brasil. Diante dos fatos, gestores e privados tentaram minimizar os problemas, identificando o que seriam apenas circunstâncias específicas e ocasionais. Porém, a saturação de um sistema acontece quando há um colapso global ou, justamente, quando há um somatório de colapsos menores, que acabam comprometendo o todo. Não resta dúvida, portanto, que chegamos a esse estágio: o sistema energético brasileiro não dá mais conta da demanda do país.

Avançamos consideravelmente nas últimas décadas, isso é inegável. Mas a velocidade dessa evolução foi inferior à necessidade da nação. Hoje há uma carência de demandas em todas as pontas, desde a geração até a transmissão e a distribuição. Nosso grande manancial hídrico não é explorado adequadamente, isso já com as usinas que estão construídas – muitas das quais estão tecnologicamente defasadas.

A integração entre elas também ainda não estão totalmente otimizada. Outras poderiam ser construídas, com mais rapidez e eficiência na realização das obras, respeitando as defesas ambientais necessárias. Segundo o próprio governo, estão atrasadas 22 das 25 hidrelétricas e 22 das 35 termelétricas atualmente em construção no país. Os entraves também estão na transmissão: por exemplo, cerca de 15% do parque eólico está ocioso por falta de conexão por linha de transmissão ao sistema integrado.

A situação é agravada pela nossa baixa diversificação energética. A maior parte da eletricidade brasileira tem origem hidrelétrica. Diferente de países mais evoluídos nesse aspecto, que cuidaram de buscar alternativas, a estratégia nacional, durante muitas décadas, foi muito centralizada praticamente nessa única matriz. Já despertamos para nossas possibilidades, mas, também nesse aspecto, ainda evoluímos numa velocidade insuficiente.

A energia eólica, por exemplo, chegou ao território nacional. Eu mesmo, quando governador, comandei um processo de atração de investimentos que resultou no parque eólico de Osório, hoje em franca produção. Na verdade, mais do que investimentos, atraímos expertise, conhecimento. Lembro bem que foi preciso derrubar muitas barreiras e quebrar resistências para fazer com que aqueles aerogeradores pudessem definitivamente captar a energia dos ventos. Depois daquele primeiro empuxe, o processo ainda anda mais devagar do que deveria.

A matriz fotovoltaica é outro exemplo da nossa defasagem na área de energia. O Brasil possui altos índices de radiação solar, o que revela alto potencial para a evolução dessa possibilidade. Porém, aqueles painéis de captação ainda são raramente vistos, seja em residências, seja em alguns locais públicos. Diversas pesquisas indicam que comunidades isoladas e carentes poderia ser amplamente beneficiadas com essa alternativa. Com investimento e incentivo a pesquisas, ainda há muito a fazer nessa direção.

O caso do carvão mineral é ainda mais grave, pois, além dos demais problemas estruturais, tem pela frente uma barreira intelectual. Um forte preconceito, para ser mais claro, muito em virtude do desconhecimento. Claro que esse fóssil, se manuseado de maneira inadequada, libera altas doses de gases poluentes. Porém, diversos países já desenvolveram técnicas de uma produção absolutamente limpa e inofensiva ao meio-ambiente. E essas ferramentas já estão disponíveis, só precisam ser contempladas em leilões com marcos legais condizentes.

A falta de energia tranca o Brasil. E isso reflete no baixo crescimento do PIB, menor do que os demais países emergentes. Também tem reflexos fiscais: desde 2013, a União arca com os custos extras da geração de energia para fechar a conta da redução das contas de luz em 20% – esses custos foram de cerca de R$ 9 bilhões em 2013. Só a utilização a pleno das termelétricas, se isso não for transferido para a tarifa, custará este ano para a União em torno de R$ 19 bilhões. É um efeito em cascata, que precisa ser estancado. A saturação é a vizinha mais próxima do colapso. Se não nos ajuda o alarmismo, tampouco nos ajudará o conformismo. É preciso agir logo e com força.