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9.12.2013

O perigo dos gastos de dezembro

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Embora o Brasil tenha consolidado boas bases macroeconômicas nas últimas décadas, há um problema de cultura de consumo que ainda persiste no cotidiano da microeconomia. Os índices mostram que, ao lado da emergência de novas classes sociais, a uma ameaça de crescimento no nível de endividamento e de inadimplência dos brasileiros. Some-se a isso outro agravante que também tem um viés cultural: o baixo volume de poupança.

O nível de endividamento das famílias alcançou recordes históricos neste ano, a considerar a série da pesquisa iniciada em janeiro de 2005 pelo Banco Central. Está na faixa de 45%, considerando o endividamento total das famílias com bancos.  O indicador vem subindo anualmente, sendo que, no começo, estava em 18,39%.

O afã por consumo é uma realidade mundial. E, com moderação, não se trata de um problema. É isso que gera empregos, amplia a renda, faz crescer as oportunidades. Um país se salva das crises externas justamente quando possui um mercado interno forte, ativo, capaz de fazer, por si só, girar a roda econômica. Não se trata, portanto, de parar de consumir.

O problema está no excesso, no descontrole, na compra que ultrapassa as condições reais de pagamento. Na passionalidade que muitas vezes comanda a decisão de consumo. No fechamento de um negócio que, sabidamente, não irá caber no orçamento – mesmo através de longas parcelas. É nessas horas que o trem descarrila.

O caos aumenta quando se escora no cheque especial e no cartão de crédito. As taxas de correção chegam, respectivamente, a 160% e 250% ao ano. Não há como manter o equilíbrio dentro desse círculo vicioso. O primeiro passo, para quem tem proventos extras, como o 13º salário, é livrar-se desses débitos. O próprio consumidor deve procurar seu banco ou sua operadora e propor a renegociação, reduzindo as taxas e zerando o crescimento desmedido da dívida.

Dezembro é um mês propício para esses tipos de disparates que todos estão sujeitos a cometer. O apelo publicitário é muito forte. O salário extra está na conta. Nossa carga afetiva desperta sobremaneira. E presentear, convenhamos, é algo realmente gratificante. Há um cenário todo ambientado para que a noção de responsabilidade financeira seja perdida.

Mas o dezembro de ganhos extras é sucedido de meses de gastos também extras. O período de férias já é um indicativo de que os pais precisarão desembolsar valores que fogem da rotina. Em fevereiro, chega a necessidade de comprar material escolar – e novos gastos surgem. Então, o mais indicado é reservar pelo menos uma parte do 13º justamente para isso, evitando a contração de novas dívidas.

Esta é a hora de ter prudência – o que é bem diferente de avareza. Que a generosidade do Natal se faça presente, mas que o equilíbrio das finanças familiares seja preservado. E isso é ser muito mais generoso do que o mero ato de presentear – ou de exceder-se nas compras. A tranquilidade ali adiante, é bem mais recompensadora.