11.11.2013
Desastres climáticos: o que fazer?
por Germano Rigotto
Escrevo desde Porto Alegre na manhã de segunda-feira, dia 11 de novembro. Depois de ter ficado horas no trânsito, devido às consequências da chuva que caiu sobre a cidade, acabo de perder um voo para Florianópolis. Mas o meu problema é menor dentre tantas notícias que se sobrepõem sobre o temporal que atingiu a capital gaúcha e todo o estado neste início de semana.
A chuva que caiu em 24 horas deve ultrapassar a média do mês de novembro. Diversas pessoas estão desabrigadas. Há pelo menos inúmeros pontos de alagamento. No bairro Sarandi, um arroio transbordou e invadiu residências. O Dilúvio, que atravessa a cidade pela avenida Ipiranga, está prestes a transbordar. Mas não é só água que corre nele, senão que também muito lixo.
Na Serra gaúcha, uma chuva de granizo destruiu boa parte dos parreirais. A perda é estimada em 100% em algumas plantações. Os ventos chegaram a 82 km/h. Na Região Central, escolas estão alagadas e as aulas foram suspensas. Cerca de 23 mil consumidores estão sem luz, especialmente nas cidades de Santa Cruz, Lajeado, Alegrete, Montenegro, Livramento, Novo Hamburgo e Cachoeira do Sul.
É um resumo do caos até este momento. Mas situação pior do que essa, muito pior, está vivendo as Filipinas. Um supertufão deixou pelo menos dez mil mortos no país. As imagens são tão impressionantes quanto tristes: casas destruídas, carros virados, redes de energia caídas e pessoas desesperadas pelas ruas. A nação parece devastada. Quem sobreviveu não está conseguindo encontrar atendimento médico. Falta comida e as lojas estão sendo saqueadas. Há muitas crianças cujos pais não foram localizados. E os ventos, que ali agora diminuíram, se encaminham para o Vietnã.
Esses fenômenos, infelizmente, não são novidade. Os desastres climáticos não são exclusividade de Porto Alegre ou mesmo das Filipinas, uma vez que pululam por todo o planeta – e acontecem em uma frequência cada vez maior. Tudo isso expõe e impõe a criação de uma nova consciência global para o problema ambiental.
É sabido que parte dos eventos aconteceria mesmo sem a intervenção humana. O tsunami do Japão, por exemplo, não teve qualquer causa externa, senão que decorreu de abalos sísmicos. Porém, a maior parte dessas ocorrências tem, sim, ligação com o mau uso que o homem vem fazendo dos recursos naturais. Não há como negar.
O aquecimento global e o crescimento desmedido (insustentável) de algumas regiões são pautas que precisam ser encaradas sem apegos ideológicos à esquerda ou à direita. São dados objetivos e inegáveis da realidade. Além dessa percepção coletiva – que envolve o conceito de mundo que queremos –, também estamos diante de um problema de consciência individual. Que o diga aquele lixo que agora corre pelo Dilúvio e por tantos outros riachos, todos eles vindos da ação direta do homem.
A dinâmica da organização urbana também precisa ganhar mais importância. Já está mais do que provado que nossas cidades não estão conseguindo dar conta do crescimento populacional, da ampliação do número de veículos, do aumento do consumo e das demandas que consequentemente se ampliam em outros serviços. Claro que não se quer e nem se pode evitar alguns desses fatores, mas os setores de planejamento e de engenharia precisam revisar o alcance dos seus prognósticos. Nossas cidades devem ser replanejadas para essa nova realidade por meio de uma visão de longo prazo, inspirada na lógica do desenvolvimento sustentável.
Os sistemas de prevenção, igualmente, precisam ser atualizados. Não é possível que as informações climáticas demorem a chegar à população. Ou, quando chegam, muitas vezes são imprecisas. Evoluímos muito nesse campo, é verdade, mas ainda estamos longe de possuir mecanismos satisfatórios de diagnóstico e de reação às intempéries. Nossas defesas civis, de todas as esferas, devem migrar para um novo patamar orçamentário e de gestão.
A questão ambiental é uma causa para o mundo, para a humanidade. Mais do que uma pauta ou bandeira política, é um imperativo ético do nosso tempo. Um imperativo de sobrevivência e de convivência. Que possamos, pois, incorporá-lo definitivamente.




