9.09.2013
Sobre civismo e a falta dele
por Germano Rigotto
Civismo é uma virtude que envolve necessariamente duas dimensões: a dos direitos e a dos deveres. Cívico é o cidadão que exige respostas do Estado e dos seus representantes. Mas não só isso. Só será cívico de verdade quem tem consciência das suas obrigações perante a nação.
No Dia da Pátria, o que vimos foi o desvirtuamento dessa dinâmica. Não por parte de todos que saíram às ruas, mas de muitos que estavam ali tão-somente para vandalizar. Uma minoria disposta a causar tumulto e exibir violência. Grupelhos sem uma causa verdadeira, sem reivindicações elevadas, sem uma sincera vontade de mudança. Sem qualquer graça ou poesia.
Depredar patrimônio público, por exemplo, é ato que não merece um milímetro de tolerância. Idem para o uso de bombas caseiras, a pichação de prédios, o trancamento de ruas, a quebra de vidros de lojas e o apedrejamento de ônibus. Dar margem a isso é derivar para o caos social. É fazer prevalecer o individualismo contra o interesse social. Nenhuma causa, por mais elevada que possa ser, justifica tais meios.
Um dos atos repetidos em diversas cidades foi a queima da bandeira nacional. Trata-se de algo patético. Olho seus protagonistas e fico pensando quão longe estão de compreender o pertencimento a uma nação, o significado de irmandade, o sentido da unidade de pessoas que vivem em um mesmo território. A bandeira não é a representação do poder, senão que do próprio povo. Queimá-la, mais do que destruir um símbolo, é simbolizar um desprezo pelo Brasil.
O mais triste é que esses atos acabam afastando quem quer exercer o verdadeiro civismo. E degradam o que há de positivo nas manifestações. Muitas pessoas de bem certamente pretendiam valer-se do Sete de Setembro para soltar seus gritos de protesto da garganta. São os mesmos que, por livre e espontânea vontade, foram às ruas em junho. E, de fato, há muito a reclamar e a reivindicar por um país melhor. Mas arruaceiros, depondo contra o próprio movimento, acabam afastando as pessoas que ali estariam justamente para protestar. A pauta policial toma o lugar da política.
Reclamar de vandalismo não é coisa de conservador. Pelo contrário: para quem defende o status quo, a baderna é um pretexto maravilhoso para a manutenção das coisas justamente como elas estão. Mais produtivo seria se adotassem causas reais, ligadas a questões estruturais do país. Não podem virar meras revoltas em torno de si mesmas, tampouco um eterno confronto entre civis e militares.
Eu convido, por exemplo, para que protestem pela mudança do sistema tributário, que prejudica especialmente os pobres e os trabalhadores assalariados. Pela mudança no sistema político, que reproduz o fisiologismo e o clientelismo, induz a corrupção e inibe a renovação. Pela mudança do pacto federativo, que concentra poder e recursos no governo federal, determinando o crescente passeio do dinheiro público com seus desvios e a má qualidade dos serviços disponibilizados à população.
Nossa juventude esclarecida precisa tomar-se desse tipo de responsabilidade cívica. Estudar, compreender e dialogar sobre transformações reais e necessárias em um país emergente. Para um tempo que já dista da Guerra Fria, que superou enfados ideológicos, que conquistou o Estado Democrático de Direito e que não abdica da liberdade individual. E aí, estaremos muito mais perto de uma nação melhor – e verdadeiramente cívica.




