25.03.2013
Um Chipre no braseiro europeu
por Germano Rigotto
Chipre é uma ilha que fica no Mar Mediterrâneo, próximo da Turquia, Síria e Líbano. Membro da União Europeia, o país tem uma área de pouco mais de nove mil metros quadrados e cerca de 800 mil habitantes. Há bem pouco tempo, era mais conhecido pelas suas belezas naturais e arquitetônicas do que por sua importância no cenário global.
Essa característica mudou, no entanto, com a eclosão de uma crise interna que passou a compor o grave cenário econômico mundial. Senão pela maior gravidade, os problemas não são diferentes dos demais países da zona: irresponsabilidade fiscal e desregulação do sistema bancário. Para alguns especialistas, o Chipre chega a ser considerado um paraíso fiscal – basta ver que os ativos dos bancos representam um percentual elevado do PIB. O peso do sistema financeiro, que agora periclita, leva junto toda a estabilidade do país.
A economia da nação tem ligação com a endividada Grécia, o que só agrava a situação. Com o perdão da metade da dívida grega, há um ano, os bancos cipriotas registraram perdas de cerca de cinco bilhões de euros. O sistema bancário é muito internacionalizado em seus depositantes, grande parte dos quais são russos. Segundo dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), no final do ano passado os depósitos somavam 70 bilhões de euros. Desse total, 20 bilhões seriam de clientes não residentes na União Europeia – 85% deles russos ou ucranianos.
Nos últimos dias, um acordo foi manejado. O país conseguiu garantir um socorro de dez bilhões de euros, o que pretende salvar o sistema bancário e livrar o país da falência. O segundo maior banco de Chipre vai ser extinto. Depósitos acima de 100 mil euros estão congelados e os correntistas devem enfrentar perdas de até 40% nessas contas. Os bancos continuam fechados por tempo indeterminado. Enquanto isso, os saques nos caixas eletrônicos estão limitados a 100 euros por dia.
O pacto ainda prevê que o governo cipriota forneça 5,8 bilhões de euros para o resgate dessa ajuda que a Eurozona e o Fundo Monetário Internacional (FMI) vão conceder ao país mediterrâneo. Tudo isso faz com que a semana inicie com certo otimismo no ar. A presidente do FMI, Christine Lagarde, entende que o acordo tem condições de restaurar a confiança no sistema bancário do país. A mesma impressão tem Jeroen Dijsselbloem, chefe do Eurogrupo, para quem o novo acordo põe fim à incerteza na ilha mediterrânea e na Europa. Ministros importantes se manifestaram na mesma direção.
Porém, não se pode dar margem para uma falsa projeção da realidade. As soluções encontradas para o Chipre, bem como para as demais nações europeias, são todas conjunturais. Quase nenhuma delas é estrutural. A saber: ainda não houve um denso e corajoso processo de regulamentação do sistema bancário, que continua agindo dentro dos parâmetros que o conduziram a tamanho caos. Os processos de ajustes fiscais enfrentam antipatia social, até porque os líderes políticos perderam credibilidade perante suas nações.
A Europa está, isto sim e tão-somente, apagando incêndios. Mas o braseiro da crise continua perigosamente aceso.




