23.04.2012
É preciso continuar acertando
por Germano Rigotto
Lembro bem das reações havidas quando, em agosto de 2011, o Copom (Comitê de Política Monetária) inaugurava uma tendência de redução da taxa Selic. Diversos setores e analistas, especialmente os vinculados ao segmento financeiro, denunciaram uma suposta irresponsabilidade na decisão. Mobilizou-se uma rede de contrariedade, sob a alegação de que as metas de inflação restariam irremediavelmente comprometidas.
Naquele mesmo período, apontei que o temor era injustificado – especialmente por dois motivos. O primeiro deles era evidente: a crise internacional que se agravava na Europa e ainda borbulhava nos Estados Unidos inauguraria, inevitavelmente, uma onda de desaquecimento das economias com repercussões inclusive em países como o nosso. O segundo é que, mesmo com a queda que se propunha, o Brasil continuaria figurando na indesejada posição de possuir as mais altas taxas de juro do mundo.
Cheguei a escrever: “A ameaça de inflação ascendente está praticamente afastada. É natural que investidores puxem o freio no curto prazo e que o ritmo de crescimento diminua. Pela primeira vez desde 2008, o governo detectou sinais de desaceleração. São constatações significativas dentro de um pequeno espaço de tempo. Tem mais: o preço das commodities tende a cair com a recessão mundial. É provável que o dólar se valorize um pouco frente ao real. E a oferta de crédito pode sofrer alguma restrição”.
Esses prognósticos se confirmaram. Todavia, mais do que saber quem acertou ou errou em relação ao que viria pela frente, importa manter o rumo e continuar acertando. A última reunião do Copom decidiu por uma nova queda da taxa Selic, novamente de maneira correta. E na próxima, que irá ocorrer no final de maio, ainda há espaço para algum avanço nessa direção. Basta ver que o arrefecimento da crise é apenas relativo, continuamos com juros elevadíssimos e não há prenúncio de descontrole das metas inflacionárias.
Também estão corretas as ações do governo sobre o spread bancário, capitaneadas através do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. A existência de bancos estatais se explica justamente em momentos como esse, quando é necessário conduzir o setor financeiro em direção ao interesse da nação. Tanto é assim que a medida já fez com que bancos privados decidissem reduzir suas taxas de empréstimo, um grande ganho para o consumidor e para as empresas – mesmo que isso só possa ser sentido no médio prazo. Ação semelhante se viu na crise de 2008, quando os bancos públicos foram fundamentais para, num momento de recessão, alcançar crédito ao mercado.
A intervenção no câmbio é outra frente de ação positiva. Esse problema está no epicentro do processo de desindustrialização brasileiro. É preciso continuar na meta de manter o dólar numa faixa capaz de fazer com que nossas indústrias tenham condições de competir com o importado e capacidade para exportar. Essa atitude também ajuda a coibir o capital especulativo, que ingressa no país sem interesse de permanecer – um dinheiro volátil que não contribui para o progresso da nação. A propósito, trata-se de uma das poucas atividades que merecem ser ainda mais tributadas.
Se as constatações são majoritariamente positivas em relação às últimas medidas tomadas, não se pode sair de uma postura de vigilância. A economia mundial vive momentos de turbulência. A Europa, envolta em eleições e problemas políticos, não desenha uma solução rápida para a crise. Os Estados Unidos, embora mostrem sinais de recuperação, também terão um desgastante processo eleitoral pela frente. Do lado brasileiro, é necessário dar continuidade aos rumos adotados, sempre com aperfeiçoamentos que ainda devem ser feitos. O caminho está correto, mas precisa ter sequência.




