5.12.2011
Crise: atenção lá, ação aqui
por Germano Rigotto
A crise financeira internacional, semana após semana, continua mostrando efeitos e reações. Na Europa, sob a liderança da chanceler alemã, Angela Merkel, os países começaram a discutir um formato de união fiscal capaz de enfrentar o crescimento da dívida. A Alemanha, com o apoio mais próximo da França, dá sinais contundentes de que a União Europeia precisa repensar-se. Fala até mesmo numa refundação. O objetivo é criar padrões restritos na Zona do Euro, de modo a garantir a estabilidade e diminuir o teto de endividamento. Merkel defende mais disciplina orçamentária e rejeita a ideia do eurobônus (título comum emitido em conjunto pelos 17 membros do bloco).
Em visita ao Brasil, a presidente do FMI, Christine Lagarde, confirmou as projeções negativas e vislumbrou o que pode vir a ser uma década perdida para aquele continente. Também ela propôs uma solução rápida e coletiva para enfrentar os problemas lá detectados. E, de fato, a UE é um bloco – assim é vista pelos investidores, de tal modo que só conseguirá sair da crise se agir em conjunto, jamais individualmente.
Só que essa propalada ação grupal encontra restrições junto a países de situação fiscal e econômica melhor, como é o caso da Alemanha. Os germânicos têm sérios e compreensíveis resguardos para atestar novos compromissos em favor de economias em ruínas, como é caso da Grécia – que, ao não fazer seus deveres de casa, sequer socorre a si mesma. Portanto, há um desconforto político que condiciona e antecede as soluções possíveis. O encontro desse meio-termo constituirá o desafio dos próximos dias. Estadistas europeus e a própria população serão colocados à prova, mas parece claro que os próximos capítulos passarão pelas mãos da chefe alemã.
Por aqui, o governo brasileiro anunciou algumas desonerações para incentivar o consumo interno e mobilizar o mercado. Houve quem dissesse que, com as últimas quedas de juro, a inflação recobraria. Se isso tivesse se confirmado, nem de longe a equipe econômica iria propor novos cortes de impostos. A realidade é bem outra. Os dados continuam mostrando que a inflação está sob controle e, paralelamente, a desaceleração vem se consolidando.
A produção industrial no país caiu 0,6% em outubro, revelou o IBGE na última semana. A queda no ritmo da atividade foi verificada em 20 dos 27 ramos pesquisados, com destaque no setor de alimentos (-5,0%), edição e impressão (-6,7%), máquinas e equipamentos (-3,1%) e material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-5,0%). Em relação ao mesmo período do ano passado, o declínio foi de 2,2%, registrando a menor taxa desde outubro de 2009.
As consequências da turbulência são cada vez mais evidentes, sendo que a resposta precisa ter um alcance proporcional. As medidas anunciadas pelo governo são positivas, mas têm alcance apenas limitado. Há outros setores que também podem ser beneficiados sem qualquer risco para o equilíbrio fiscal. Pelo contrário: o aumento de consumo – já se provou inúmeras vezes – acaba gerando mais arrecadação no médio prazo. Além disso, não se pode inverter a tendência recentemente inaugurada de reduzir a taxa de juros, que continua sendo a mais altas do mundo. As condições ainda dão segurança para uma boa margem de corte.
A crise está posta. Veio de lá, mas já chegou cá. Cumpre-nos torcer para que a Europa se entenda e encontre um bom caminho. Mas, ao mesmo tempo, devemos agir com rapidez e eficiência para manter a atividade do nosso mercado interno e alcançar taxas razoáveis de crescimento. Para isso, é indispensável persistir em duas direções: tanto na queda da taxa Selic quanto no estímulo ao aquecimento do consumo. O melhor antídoto para um turbilhão que vem de fora é cuidar bem do que de mais valioso temos aqui dentro. Ou seja: nossos setores produtivos e nosso público consumidor.




