31.10.2011
Uma nova cultura para as finanças pessoais
por Germano Rigotto
Uma boa novidade tem surgido no horizonte das famílias brasileiras, o que pode ser a semente de uma importante mudança cultural. Falo da prática de tratar as finanças pessoais com um olhar mais criterioso. Não exageradamente tecnicista e profissional, até para não perder a leveza do ambiente doméstico, mas de um modo suficiente para controlar melhor os gastos e acompanhar com mais detalhe a evolução do orçamento familiar. De um jeito de organizar receitas e despesas que contribui, inclusive, para o relacionamento entre pais e filhos, maridos e esposas. A transparência e a verdade, afinal, são valores que precisam ser cultivados também – e principalmente – dentro de casa.
É um processo educativo. Especialistas em infância atestam que a noção de limites deve alcançar os aspectos relacionados ao dinheiro. É preciso ter noção de sua finitude. Mais: num tempo em que a sedução do consumismo ronda o cotidiano, é prudente não deixar que a pecúnia protagonize a vida dos filhos. E esse é um risco não apenas para os mais abastados, senão que para a classe média. A ânsia de tudo prover, se não for bem conduzida, pode gerar uma falsa sensação de comodismo, vaidade e isolamento. E eis que as boas intenções dos pais tendem a criar uma desordem moral, um desvirtuamento.
Mas essa nova lógica não gera repercussão apenas caseira. Influencia ainda em pelo menos dois aspectos da macroeconomia: poupança e endividamento. O aumento dos índices de poupança é uma meta que o Brasil ainda precisa perseguir, o que depende desse esforço individual da população. Dinheiro guardado, principalmente numa hora de crise, é garantia de estabilidade e superação. Quem tem apuro no orçamento doméstico também se endivida menos e, por consequência, tem menor risco de inadimplir. O excesso de dívidas pessoais, a propósito, esteve no epicentro da última crise internacional protagonizada pelos EUA. Aqui, o crescimento da inadimplência já dá sinais de preocupação.
Seria louvável e produtivo que o ensino formal incorporasse estudos nesse sentido. Talvez não seja necessário criar disciplinas específicas para tanto. Porém, desde o ensino fundamental, é possível incluir conteúdos sobre o trato do dinheiro, o que vai estimular crianças, adolescentes e jovens a terem uma postura de responsabilidade diante de seus proventos e patrimônios no futuro. Na esteira de tantos assuntos que compõem o currículo escolar, certamente haveria espaço para essa abordagem.
Enfim, o dado empírico de que um acompanhamento mais cuidadoso das finanças pessoais está entrando no cotidiano familiar é algo a ser comemorado e reforçado. Sinal de maturidade e equilíbrio. E agora se pode avançar em busca de uma contribuição ainda maior vinda das nossas escolas e universidades, tarefa que envolve a decisão de governos e gestores. Há margem para um bom debate a respeito disso – e muitas evoluções.




