22.08.2011
A necessária redução dos juros
por Germano Rigotto
A nova crise econômica global, que tem em seu epicentro o descontrole de gastos públicos e a desregulação do sistema financeiro dos Estados Unidos e da Europa, espalhará efeitos inevitáveis ao redor do globo – inclusive no Brasil. E os prognósticos de superação não apontam para o curto prazo, isso porque a inversão de qualquer processo de déficit fiscal depende de muita constância e costuma demorar. Também requer certa dose de unidade política, ambiente que parece não existir na realidade americana e europeia.
No cenário brasileiro, conforta notar, em primeiro lugar, a postura da presidente Dilma Rousseff ao prenunciar que o país, embora esteja mais preparado diante desse novo turbilhão, inevitavelmente sentirá seus impactos. Reconhecer um perigo é a primeira condição para enfrentá-lo. E tal combate dependerá de manter o nível da atividade econômica nacional. A grande questão reside em como fazer isso.
Diversos são os mecanismos à disposição do governo. Em 2008, o estímulo fiscal a determinados setores foi fundamental para manter o mercado medianamente estabilizado. O aumento do investimento público também foi utilizado. Agora, diferentemente de outros países, o governo tem duas ferramentas adicionais para garantir que a economia não entre num processo de desaquecimento: a possibilidade de reduzir a taxa de juros e a de liberar parte do compulsório retido pelo Banco Central. Está se desenhando um cenário muito claro para justificar medidas nessa direção.
Senão, vejamos: a ameaça de inflação ascendente está praticamente afastada. É natural que investidores puxem o freio no curto prazo e que o ritmo de crescimento diminua. Pela primeira vez desde 2008, o governo detectou sinais de desaceleração. São constatações significativas dentro de um pequeno espaço de tempo. Tem mais: o preço das commodities tende a cair com a recessão mundial. É provável que o dólar se valorize um pouco frente ao real. E a oferta de crédito pode sofrer alguma restrição.
É aparentemente contraditório, mas o fato de termos uma das mais altas taxas de juros do mundo agora permite uma margem maior de manobra, algo de que outros países não dispõem. Mais que manter a atividade econômica, a queda significará uma grande economia para o governo em relação à divida, cujo custo de rolagem está na casa dos R$ 250 bi ao ano. É possibilidade de mais investimentos em educação, saúde, segurança e infraestrutura – grandes demandas da nação.
Esse conjunto de fatores demonstra que, além de beneficiar o equilíbrio fiscal – em vista dessa diminuição dos gastos com a dívida –, a alteração da política monetária vai ser o fator decisivo para o Brasil enfrentar a crise. Até mesmo os setores mais conservadores do Banco Central haverão de reconhecer que a atual turbulência internacional poderá determinar o início da redução da taxa Selic. Está se desenhando o cenário para o Brasil seguir este caminho.




