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20.06.2011

Ainda falta o dever de casa

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O vulcão da última crise financeira internacional continua em erupção. Engana-se quem pensa que suas labaredas acabaram. Tanto é assim que as cinzas permanecem chegando até nossos ares e tumultuando o cenário local. Não bastasse isso, preocupa ainda mais a constatação de que algumas das principais causas do recente turbilhão sequer foram sanadas.

Nos últimos meses, os sinais sociais e econômicos desse contexto ficaram mais evidentes na Europa: os preços subiram, a economia estagnou e o desemprego chegou a taxas de 20% em alguns lugares. A dívida pública foi a 84% do PIB da zona do Euro. Em nações como Irlanda e Itália, atingiu o ápice de 125% e 116%, respectivamente. O déficit público estourou e a arrecadação caiu. Os protestos populares cresceram consideravelmente – basta ver o caso da Grécia. A transição de grupos políticos no poder, vide Portugal e Espanha, sinalizou com esperança, mas desenhou incertezas e temores.

A combinação de cenários negativos arrefece a tentativa de reerguimento e, na lógica dos vasos comunicantes, respinga ao redor do globo – inclusive no Brasil e demais emergentes. Um dado atual confirma tal implicância: o mercado acionário nacional tem registrado quedas sucessivas. O Ibovespa marcou, nos últimos 12 meses, perdas próximas de 6%, sendo que no ano chegam a 12%. E o motivo preponderante é o temor dos investidores quanto à recuperação das atividades econômicas europeias e norte-americanas.

Diferente do que ocorre aqui, os sistemas financeiros dessas potências permanecem descapitalizados, com pouca regulamentação e baixa alavancagem. Isso não mudou nem depois da crise. Eles também precisam olhar para suas próprias economias, incentivando os setores produtivos e fazendo a roda voltar a girar com força total. O crédito, se oferecido com critério e cautela, pode ser uma oportuna mola propulsora nesse momento. Ao invés de preciosismos político-ideológicos, é preciso agir pragmaticamente, reativando a capacidade interna para ter empuxe de reconstruir fortes bases macroeconômicas.

Nossa nação mudou seu estágio, rumo à condição de player global, exatamente quando passou a tomar medidas que invertiam a teia de irresponsabilidades que compunham seu cotidiano. Foi uma tarefa iniciada com bastante destreza há alguns anos, e que se cuidou de manter e aprimorar mais recentemente. Falta a esses países fazer igual dever de casa. Até lá, não nos enganemos: ainda há muito pela frente antes que o vulcão da crise financeira possa realmente acalmar.