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9.05.2011

Menos simples do que parece

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É compreensível o estardalhaço midiático comandado pelos Estados Unidos para anunciar a morte de Osama Bin Laden. Internamente, caçar o terrorista foi uma resposta às famílias das vítimas que clamavam por justiça. Tanto os setores conservadores quanto os mais progressistas estavam alinhados ao propósito de liquidar o líder talibã. Havia um valor simbólico para os americanos, cujo ufanismo nacionalista, tão conhecido, se viu atingido com o ataque ao World Trade Center. Nesse contexto, a ação no Paquistão foi uma jogada política certeira do presidente Barack Obama. Externamente, a par de reforçar o poderio dos EUA no cenário internacional, o episódio revigora a luta contra movimentos semelhantes à Al-Qaeda. Faz ganhar pontos no jogo do medo e, de quebra, legitima o papel do país em questões domésticas alheias, como nos casos do Egito e da Líbia.

Porém, as tensões em vista do Oriente Médio – tanto as do passado quanto as do presente e do futuro – não terminam com o fim de Bin Laden. Fosse assim, morto o principal artífice do 11 de setembro, cessariam imediatamente os temores de novos atentados ao redor do globo. E ocorreu o contrário: antes mesmo do anúncio oficial feito por Obama, sob os olhares mundiais, os Estados Unidos já haviam acionado todos seus mecanismos de defesa. Além disso, cidadãos norte-americanos foram alertados para o perigo de revanches individuais. Nações aliadas igualmente intensificaram precauções. No lugar de diminuir, a passagem do principal inimigo aumentou o medo.

Mas, para além das sensações, é provável que a situação – em si mesma – também não melhore. Pelo menos não com a euforia prenunciada por certos analistas. Ora, há uma máxima que se encaixa com perfeição nesse cenário: problemas complexos jamais se resolvem com soluções simples. Isto é, o ato de matar Bin Laden nem de perto resolverá os conflitos em vigor. Há uma série de fatores incidentes que não se acomodam facilmente. Afora as questões de fundo, de ordem religiosa e cultural, há nuances desconhecidas sobre as disputas internas em curso no Oriente Médio. Por exemplo: não há como identificar os reais propósitos dos grupos rebeldes, mesmo quando se erguem contra ditaduras. Tem mais: os seguidores suicidas tendem a reagrupar-se ainda mais depois do ocorrido. E alguns ocidentalistas preconceituosos continuarão teimando em transplantar nossos institutos e valores para uma realidade completamente diferente.

A comunidade internacional terá de agir com prudência e maturidade nos próximos meses e anos. Não precisaremos de monopolistas do bem e da ordem, tampouco de chantageadores. Americanismos caricatos não serão úteis à construção da paz, tanto quanto não o serão antiamericanismos inspirados na Guerra Fria. Quando o Ocidente conseguir compreender mais a fundo a realidade oriental, e quando o Oriente for capaz, por si mesmo, de qualificar suas práticas internas e externas, aí provavelmente estaremos perto de dias melhores. Com menos medo e fanatismo. Menos ataques e vinganças. Enfim, para um problema complexo como esse, será necessário bem mais do que simplismos convenientes. Que os predicados da diplomacia saibam conduzir os próximos passos.