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14.02.2011

Desindustrialização: do risco à preocupante realidade

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Por trás da economia de todos os países desenvolvidos, há sempre um setor secundário robusto e em constante evolução. Assim ocorreu, historicamente, com os Estados Unidos, Japão, Alemanha e França. Nas últimas décadas, o mesmo se deu com a China. O paradigma inverso fornece outra lição – basta ver a recente crise financeira internacional: quando a indústria vai mal, toda a nação segue ladeira abaixo.

O Brasil, contudo, segundo indicam alguns fatores, parece ainda não ter assimilado esse acúmulo de experiências. Eis que, em um dos melhores momentos de nossa história, a desindustrialização deixa de ser apenas um risco. Trata-se, agora, de um preocupante dado da realidade.

Diferente dos setores do comércio e serviços, a indústria não enseja o clima de otimismo que tem permeado o País. São muitos os indicativos que apontam nesse sentido. Embora o acumulado da produção tenha aumentado 10,5% no ano passado, os últimos dois trimestres foram de queda – respectivamente de 0,6% e 0,1%.

Esse baixo desempenho pode ser observado também através da diminuição do peso dos bens manufaturados na pauta de exportações. Entre 2000 e 2010, a fatia reduziu de 74% para 53%. Ao mesmo tempo, as commodities agrícolas e minerais vêm conquistando espaço nos envios ao exterior. E, a cada ano que passa, os números confirmam o avanço rápido da produção estrangeira de industrializados e semi-elaborados sobre a nacional. As remessas estão em expansão, porém com velocidade bem abaixo das importações. Basta ver que, no ano passado, o Brasil foi a nação onde a entrada de produtos de fora mais aumentou em todo o mundo.

Três episódios recentes são sintomáticos do processo que está em curso. Em dezembro, a Philips fechou sua fábrica de lâmpadas automotivas, instalada no Recife há 43 anos. O abastecimento do mercado interno, desde então, é feito a partir de unidades na Ásia e na Europa. Na mesma época, a Novelis, fabricante de laminados de alumínio, encerrou suas atividades na Bahia. A Vulcabras Azaleia, por sua vez, irá montar um parque na Índia – de onde exportará calçados para toda a América Latina.

A desindustrialização é resultado de um coquetel perverso: real supervalorizado, maior taxa de juros do mundo, carga tributária abusiva, infraestrutura precária e concorrência desleal com a China. Juntos, esses fatores minam a competitividade nacional. Deixamos de produzir aqui para comprar de fora. E, assim, entregamos o mercado brasileiro de bandeja para nossos concorrentes e geramos empregos no exterior.

Para mudar essa tendência, o Brasil precisa reverter esse quadro com urgência. Garantir condições para termos uma indústria sólida e com capacidade de concorrer no mercado internacional é pré-requisito para nosso sucesso. As experiências no mundo desenvolvido apontam exatamente nessa direção, e é com base nelas que precisamos agir para chegar ao topo do mercado econômico global.