22.02.2016
Não é hora de vacilação
por Germano Rigotto
O ajuste fiscal é uma imposição da realidade micro e macroeconômica do país. Claro que, como já defendi diversas vezes em nossos espaços, o programa de ajuste não pode tirar o pouco de oxigênio que ainda resta na economia. Ao contrário, precisa estimular o mercado. Porém, não se pode mais duvidar do pressuposto: é preciso arrumar a casa – e com urgência.
O governo e sua base, entretanto, se mostram claudicantes nesse propósito. O ministro Joaquim Levy caiu, em grande medida, porque não sentiu receptividade para suas propostas. Claro que o Congresso também foi resistente, jogando fogo na crise política. Mas, tanto Levy quanto suas ideias, sofreram forte combate desde o seu ingresso no governo.
Não está acontecendo muito diferente com Nelson Barbosa. Embora mais próximo dos petistas e da própria presidente Dilma, o novo ministro já vem enfrentando o conhecido – e perigoso – fogo amigo. Isso ficou bem claro no anúncio do corte de R$ 23,4 bilhões do Orçamento. Barbosa fez o que já deveria ter sido feito antes. Apesar de amargo, o remédio se impunha. E não será o único. É apenas parte do tratamento. Mesmo assim, surgiram diversas resistências internas.
O maior estímulo econômico, e o primeiro deles, é a estabilidade. Com a economia periclitando, tudo vira uma espécie de placebo. Nada funciona sem a confiança de um ambiente controlado. Os vetores que definem isso não são exclusivamente internos, mas, no caso do Brasil, a crise tem um inequívoco viés próprio. Os gastos públicos estão nas alturas, a inflação sobe, o desemprego aumenta, os juros crescem, o PIB míngua, o endividamento está em alta… São problemas nossos, de culpa e causa própria.
Noto que há uma certa prepotência em reconhecer a crise. E essa espécie de cegueira, que é uma das causas da nossa debilidade, agora também é responsável pela demora na reação. Um bom prognóstico depende de um bom diagnóstico, ora. Não há mais como tapar o sol com a peneira. Não se faz política econômica apenas com discurso – nem na hora da tempestade, nem da bonança. Tampouco com benevolência eleitoral. É preciso ter responsabilidade sempre. E nem sempre se teve.
Não há caminho de recuperação fora da austeridade. Não há. Ela gera dor, desconforto, contrariedade. Mas se impõe como passo necessário para seguir em frente. E precisa ser ainda mais profunda, de modo a chegar nos gastos supérfluos – a infinita montanha de inutilidades e sobreposições do aparato estatal. Muito pouco se mexeu nas imensas gorduras do establishment.
Claro que não é só isso. Ajuste fiscal não é tudo, mas é condição. O Brasil ainda carece de muitas reformas estruturais. Precisa recuperar a confiança, valorizar sua indústria, reativar o mercado consumidor, estimular a produção. Mas não pode vacilar na tarefa de arrumar a desorganizada casa da economia. E o próprio governo deve colaborar com ele mesmo. Tudo o que não precisamos, neste momento, é emitir sinais erráticos.




