15.02.2016
Um pós-Carnaval de muitos desafios
por Germano Rigotto
Alguns dizem que o ano brasileiro começa mesmo depois do Carnaval. Não concordo com a ideia, pois o setor produtivo não para. Mas, sem racionalizar demais, o fato é que a pauta política realmente só esquenta depois da festa mais popular do país.
Com o fim do recesso do Congresso Nacional e do Judiciário e o retorno das férias das principais figuras da República, os grandes temas voltam à discussão. E essa assertiva nunca foi tão verdadeira quanto no ano de 2016. Vivemos um momento de perigosa desestabilização. E o pós-carnaval reserva um turbilhão de desafios.
O mais novo deles é o desemprego. Até aqui esse problema passou quase despercebido para grande parte da mídia e da opinião pública. Mas agora, com as filas de desemprego dando as caras, isso ficou evidente. Porto Alegre, por exemplo, na última semana, viu cinco mil pessoas fazerem uma gigantesca fila na sede do Sine (Sistema Nacional de Empregos) em busca de oportunidade de trabalho. Dez empresas ofereciam duas mil vagas. A cidade se surpreendeu. Fazia tempo que não se via isso.
Dados da FNC (Federação Nacional do Comércio) mostram que cem mil empresas encerraram suas atividades em 2015. O parque industrial brasileiro segue em constante depreciação. Os números negativos chegam de quase todos os setores. A inflação não para de subir. O endividamento, idem. Os estados e municípios estão com as contas em colapso. Isso tudo precisa ser tratado no curto prazo. Para ontem.
A economia carece de uma urgente reoxigenação. Caso contrário, veremos esse drama aumentar. E não se trata necessariamente de injetar verbas e financiamentos estatais no mercado, até porque esse mecanismo está esgotado. O setor produtivo precisa de um estímulo estrutural, sendo que o primeiro passo deve ser a recuperação da confiança interna e externa. É preciso emitir sinais, por meio de medidas concretas, que apontem para a sustentabilidade financeira do país, a clara disposição de enfrentar a crise e o empenho em cumprir contratos e acordos.
Estamos naquele fio de navalha, que não vivíamos há anos, de fazer ajuste fiscal sem causar recessão. É uma fórmula complicada – talvez não exista uma fórmula perfeita ou predefinida para isso. Mas o certo é que nenhum ajuste deve ser severo a ponto de aniquilar a mobilidade do mercado produtivo e de consumo. E nenhum estímulo deve ser concessivo a ponto de gerar endividamento desenfreado e irresponsabilidade fiscal. Nos últimos períodos, nossa gestão econômica foi mal nas duas dinâmicas.
Estruturalmente, está posto o desafio da reforma previdenciária. A presidente Dilma fala do assunto não é de hoje. Há pouco, na mensagem de abertura do ano legislativo, repetiu o mote. Mas ainda não dá para ter noção da proposta. Até porque, na prática, ela encontra resistências dentro do seu próprio partido. E, ainda sobre reformas, deveríamos avançar pelo sistema político e tributário, além do pacto federativo – tudo muito improvável, seja pela crise, seja por ser ano de eleição.
Os desafios econômicos só não são maiores do que os políticos. E, por enquanto, também nesse ponto o governo não está tendo capacidade aglutinativa. Os erros se sobrepõem, semana a semana. A instabilidade política segue sendo tratada com certa prepotência pelo Planalto. Não há conclamação do país à unidade. A opção foi pela vitimização. Não há bandeira branca. E também não há agenda, o que agrava o quadro ainda mais. Mesmo que o impeachment tenha perdido força e consistência, ainda há todo seu trâmite para percorrer – e é certo que a oposição não vai deixar barato.
Afora isso, há um sem-número de processos de investigação ainda em curso. O PT tem dificuldade de reconhecer erros. E seus aliados, dentre os quais a parte majoritária do PMDB, pouco se importa com a sustentabilidade do governo. A questão é o poder – pelo poder. Alguns líderes parecem ter descolado do sentimento médio da população.
O drama é o seguinte: o ano começou, os problemas estão ainda mais graves e, até aqui, não há proposta sobre a mesa. O tempo joga contra nós, pois, além de corroer a economia, a recessão destrói também a confiança. Sem ela, o país fica ainda mais travado. E eis que se forma um perigoso círculo vicioso. Não sou de fazer alardes. Confio enormemente na capacidade da nação. Mas, diante de tamanhas dificuldades, tudo o que não precisamos é mais do mesmo.




