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21.12.2015

A esperança. Sempre ela

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Em cada balanço de final de ano, procuro olhar mais para frente do que para trás. As perspectivas sempre me entusiasmaram mais do que as retrospectivas, mesmo que essas últimas tenham sido positivas. Claro que avaliar o tempo passado é um exercício fundamental para corrigir rumos – isso vale para indivíduos, famílias, empresas e governos. Mas o amanhã sempre se impõe e pede passagem.

No caso do Brasil, mais do que em qualquer outro momento dos últimos anos, chegou a hora de desenhar um novo caminho no ano que vai nascer. Não preciso recordar dos inúmeros problemas havidos em 2015, da política à economia. Não convém recuperar detalhes. Somamos escândalos estrondosos. Nossa estabilidade financeira deu perigosos indícios de ruína. O desemprego bateu à porta. O agronegócio segurou a onda, mas o parque industrial recuou ainda mais. Perdemos o rumo. Faltou liderança.

Todavia, como comprova toda a história da humanidade, os momentos de crise fazem surgir grandes novidades. É hora de descobrir e redescobrir vocações. Recolocar as coisas no lugar. Dispensar o supérfluo e valorizar o essencial. Rever conceitos ultrapassados e recuperar virtudes que se perderam. Mexer em zonas de conforto. Mudar o que parecia imutável. Colocar o dedo na ferida. Enfim, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Nós estamos numa encruzilhada muito clara. A escolha está entre fazer esse reposicionamento ou, muito provavelmente, mergulhar de maneira definitiva em uma crise ainda mais grave. Falo de um caminho que aponta para o abalo da credibilidade no ambiente externo e para a queda dos indicadores sociais no ambiente interno. A perda do grau de investimento é a ponta do iceberg desse revés, que gera consequências para todos os lados.

Mas sempre há chance de trilhar outro caminho. Sempre. E percorrê-lo é uma necessidade urgente. Vejo que o Brasil passa por uma grande depuração ética. E esses escândalos, se denunciam uma corrupção ainda incrustada nas relações entre o público e o privado, também comprovam que as instituições estão em pleno funcionamento. E, nesse aspecto, sim, estamos diante de uma boa notícia.

Mesmo que em prisões temporárias ou provisórias, o fato é que nossa organização jurídico-política mostrou capacidade investigativa e punitiva. O Brasil não será mais o mesmo depois desses processos que alcançaram altos nomes da República. As penitenciárias abrigaram nomes dos mais poderosos da nação.  Quem não imaginava que criminosos de colarinho branco pudessem ser presos, agora tem motivos para voltar acreditar no país.

Mas, independente dos atores, precisaremos de uma nova atitude política. Há um vácuo de liderança política que precisa ser melhor exercido, inclusive pela atual presidente. E na economia, está ainda mais claro que serão necessárias mudanças estruturais e conjunturais. O novo ministro terá trabalho para fazer o ajuste no plano imediato. Mas isso não bastará se não tiver conexão com uma reforma de futuro, que mexa especialmente na matriz tributária, nas regras políticas e eleitorais e na organização do pacto federativo. O país deve rever-se.

Então, 2016 é tempo de oportunidades. E, apesar de todos os pesares, o ano que vai começar haverá de ser melhor do que este que está prestes a terminar. Há um Brasil que dá certo. Somos um povo plural, democrático, criativo, corajoso, trabalhador. Temos um solo fértil, um território de dimensões continentais, uma grande margem para avançar. A crise está posta para ser enfrentada. E a esperança nos leva adiante. Sempre.