30.11.2015
A crise pede reação
por Germano Rigotto
A atual crise tem características realmente exclusivas. Não é por nada que alguns analistas estão chamando de tempestade perfeita. Tivemos várias turbulências nas últimas décadas, mas em nenhuma delas houve tamanha confluência de fatores negativos nas mais diversas áreas. O Brasil tem sérias dificuldades políticas, econômicas e éticas – para ficar só nessas três dinâmicas. A junção delas gera perda de credibilidade interna e externa, o que, por sua vez, estimula um círculo de desânimo, descrença e desesperança. É a recessão da recessão. Na dúvida se o mar está para peixe, o pescador não sai para pescar. É um clima que, por exemplo, enterra a dúvida do investidor – ele acaba desistindo do negócio antes de começar.
Os números dos últimos dias, selecionados pelo jornalismo econômico, não deixam mentir sobre o tamanho da desordem: R$ 20 bilhões em uma ação contra a Vale, a BHP e a Samarco; R$ 10 bilhões de bloqueio no orçamento federal; R$ 2,7 bilhões de perda de valor no banco Pactual; R$ 1 bilhão de multa para a Andrade Gutierrez voltar ao mercado; e R$ 119 bilhões ao ano de déficit público. Não há discurso que consiga segurar essa onda. Para completar, uma equipe técnica da agência Standard & Poor’s, que já rebaixou a nota do país, deve fazer uma nova visita nos próximos dias. Qualquer decréscimo representa, quase que imediatamente, mais perda de investimentos.
No terreno da política, já não há mais dúvida sobre a dificuldade que o governo federal possui de estabelecer uma agenda para o país. Desarticulado e sem planejamento, o Executivo segue como se estivesse à deriva. As iniciativas de gestão e de articulação são meramente espasmódicas, sem ligação uma com a outra. A base aliada governista não consegue mais ter consistência. Muitos mostram ter desistido por dentro, a saber: já não são mais governo mesmo o sendo. Ocupam cargos e postos, mas não estão nem aí. E, mais grave, o governo também muitas vezes parece não estar nem aí. Nada acontece. A perda de credibilidade e de liderança chega às barras da zombaria.
E se atravessarmos para outro lado da Praça dos Três Poderes, em direção ao Legislativo, a situação não será muito diferente. A Câmara dos Deputados está dissociada de uma agenda da crise. Diversos pontos do ajuste fiscal não são votados. Pelo contrário: alguns projetos de iniciativa do parlamento tendem a agravar ainda mais a situação fiscal brasileira. O presidente Eduardo Cunha, politicamente avariado, tem graves acusações sobre ele. É impossível que consiga defender-se e conduzir a Casa ao mesmo tempo. O Senado viveu a prisão do líder do governo, cuja dimensão dispensa maiores análises. Então, nosso Congresso, que já tinha uma produção muito insatisfatória, tende a ensimesmar-se ainda mais.
O primeiro passo para sair da crise – de qualquer crise – é encontrar uma agenda básica, preferencialmente com consensos mínimo, que una governo e oposição. Logo em seguida será hora de encaminhar reformas estruturantes, que modernizem as instituições e as regras constitucionais brasileiras. Pelo menos as de ordem política, tributária e federativa. Temos um modelo de aparato estatal com decênios de defasagem. A sociedade é online enquanto o Estado segue analógico, lento, pesado e caro.
Provavelmente estamos diante da mais grave crise das últimas décadas. Mas provavelmente, também, estamos diante da maior oportunidade de, constatados os problemas, colocar em prática transformações de futuro em nosso país. A história mostra que muitas nações se reinventaram a partir de grandes turbulências. E nós estamos imersos numa delas. Que não precisemos chegar tão longe, descendo ainda mais ladeira abaixo. Mas que não nos vença a inação. É preciso reagir. Já




