6.07.2015
Grécia: um exemplo a não seguir
por Germano Rigotto
O “não” venceu na Grécia. Significa que o país não está disposto a encarar mais um pacote de ajuste fiscal, nem mesmo como garantia de permanência na zona do Euro. O “sim” abriria caminho para aperto nos gastos e diminuição de conquistas sociais, isto é, restrições de curto prazo. A vitoriosa impõe a retomada de negociações em outro parâmetro, mas com uma economia ainda mais combalida.
A situação não é fácil. E o resultado prático, em termos sociais e econômicos, está longe de ser previsível. O plebiscito decidiu o caminho, entretanto, não tem como antever o ponto de chegada. A população saiu às ruas para festejar, mas não há, pelo menos por enquanto, grandes motivos para comemoração. A sombra da dúvida, no mínimo ela, permanecerá por um bom tempo no horizonte. Não é para menos: a dívida grega é de 320 bilhões de euros, o que equivale a um trilhão de reais. Isso representa 185% do PIB do país.
A economia da Grécia encolheu quase um terço entre 2008 e 2014. O desemprego entre os jovens é superior a 50%. No geral, marca 28%. O plano de austeridade, em vigor há cinco anos, já era um receituário da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI|) para o enfrentamento da crise. A população não sentiu avanços, o que explica o resultado da consulta. Na última terça, o país já havia se tornado a primeira nação desenvolvida a dar calote no FMI, deixando de pagar uma dívida de 1,6 bilhão de euros. Há, claramente, um esgotamento de possibilidades.
O premiê Alexis Tsipras, que defendia o “não”, disse neste domingo que está pronto para abrir novas negociações. Ele quer, como primeiro objetivo, abrir os bancos que fecharam durante as últimas semanas. Sua vitória política busca dar um clima de normalidade institucional, pressuposto para que a economia também possa evoluir. Antecipou que não irá propor o rompimento com a Europa, mas apenas um novo modelo de relacionamento. Quer sentar com todos os credores e recomeçar. Tem, sem dúvida, uma tarefa difícil pela frente. E tem pouco tempo.
A Grécia é um país territorialmente pequeno, mas a repercussão do quadro não acaba em suas fronteiras. A proporção é mundial justamente porque é indiciária de outros problemas na região. A decisão de não pagar credores pode abrir um precedente perigoso dentre os demais membros do Eurogrupo, especialmente Espanha, Irlanda e Portugal. E o ambiente da opinião pública, como se viu no último domingo, parece apontar nessa direção.
Vamos acompanhar muitas cenas dos próximos capítulos. Mas a grande pedagogia da experiência grega está em observar – e não reproduzir – os erros cometidos por lá. Ora, essa situação não se materializou abruptamente. Ela é resultado da soma de equívocos repetidos ao longo de muitos anos, mas tem um nascedouro muito concreto: o desequilíbrio entre as receitas e as despesas.
Nada se sustenta, no ambiente público e privado, sem o equilíbrio financeiro. Tudo virá pó, essa é a grande verdade. O pressuposto vale também para programas, salários e conquistas sociais. Mesmo aquilo que é justo precisa ter correspondência na receita. Trata-se de uma questão de liquidez. É por isso que as boas intenções, sempre proeminentes, precisam vir acompanhadas da respectiva fonte de financiamento. Caso contrário, o caminho do esgotamento estará sendo trilhado, em maior ou menor tempo.




