7.02.2011
A educação por trás da potência
por Germano Rigotto
A trajetória econômica bem-sucedida que a China vem alcançando nas últimas décadas tem como principal cerne uma equação simples e objetiva: quanto mais efetivo for o sistema educacional, maior será a solidez do crescimento. Tendo em vista os resultados do último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o futuro reserva ao país asiático um lugar ainda mais relevante no pódio internacional.
A prova, realizada a cada três anos, avaliou meio milhão de adolescentes de 65 países de todo o mundo. Em cada uma das matérias – leitura, matemática e ciência –, os estudantes do dragão asiático assumem a dianteira com uma boa margem de segurança. O incrível desempenho dos chineses, cuja estreia se deu agora no teste, pôs em xeque o modelo de ensino de diversas nações.
Não é por menos. Os alunos de segundo grau da cidade de Xangai alcançaram a primeira colocação no exame aplicado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Deixaram para trás seus concorrentes dos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Japão e Coreia do Sul. E, por óbvio, do Brasil. No ranking geral, amargamos o preocupante 53º lugar.
Quando comparada a performance dos alunos chineses com a dos brasileiros, revela-se com precisão a gravidade da nossa situação. Embora tenham sido registrados avanços na educação nacional desde 2000, o ritmo permanece bastante lento. Basta ver a diferença na pontuação entre as duas nações. Em um score que vai até 1000 pontos, a China ganhou em leitura (556 a 412), matemática (600 a 386) e ciência (575 a 405).
Por trás do êxito chinês, há valores profundamente introjetados em sua cultura. Mesmo entre famílias carentes e diante da falta da mínima estrutura, os estudantes frequentam a escola. A educação, por lá, não está aberta a negociações. Claro que seus efeitos são menos efetivos num regime fechado – principalmente no que concerne à criatividade –, mas a instrução, ainda assim, é um imperativo.
Outros fatores são decisivos na qualidade do ensino da nação oriental. As crianças têm diariamente aula das 8h às 16h. Nas horas restantes e nos sábados, dedicam-se às atividades extracurriculares. Ou, com a marcação cerrada dos pais, revisam e antecipam as matérias em suas residências. Os professores, por sua vez, passam por certificações rigorosas e recebem bônus baseados em desempenho. Soma-se a isso o investimento progressivo na área.
A China está definitivamente fazendo seu dever de casa. Além do crescente poderio político e econômico, o país vem construindo sua fortaleza na educação. Também aspirante à condição de potência global, o Brasil precisa voltar os olhos para o continente asiático e aprender algumas lições. Observar de perto a experiência chinesa é um importante passo nesse sentido.




