22.06.2015
Educação: mais do que estratégia
por Germano Rigotto
Ao escolher a educação como prioridade do seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff acertou na estratégia. Porém, até aqui, não mostrou claramente as táticas para que isso seja mais do que mera intenção. São inúmeros os relatos de países que, via educação, saíram da estagnação ou mesmo do caos em direção a um avançado estágio de desenvolvimento. Alguns, como o Japão, dizimados pela guerra, escolheram esse insumo como principal ingrediente para construir uma nação vitoriosa.
Nos últimos anos, dentro da dinâmica da educação, o foco esteve voltado para o ensino universitário de caráter inclusivo. Ou seja, mais do que apostar na área, o governo promoveu uma série de políticas de acesso que beneficiaram grupos sociais anteriormente afastados desse processo. Os números e estatísticas provam que, numericamente, esse plano deu certo. Qualitativamente, considerando a mudança que provocou na vida de muitas pessoas, também funcionou. São inúmeros os relatos de cidadãos que, por esse acesso facilitado, mudaram sua condição econômica e social.
Entretanto, permanece um problema de fundo em termos de qualidade e de integração da academia com o cotidiano da sociedade. Temos centros universitários de excelência em todo o país. Outros, no entanto, apresentam um ensino precário. Há relatos e investigações sobre uma espécie de mercantilização dos diplomas. E se o ensino superior ainda precisa ser mais acessado, é certo que ele não pode ser banalizado em seu conteúdo e resultado.
Então, ao escolher a educação, a presidente Dilma tem essa preliminar para resolver. O que esteve no centro das atenções do governo ainda precisa evoluir. Mas os problemas não terminam aí. Nossa maior deficiência, atualmente, atende pelo nome de ensino fundamental. É impressionante como esquecemos o cuidado com as nossas crianças e adolescentes nas séries iniciais. O Brasil parece que adormeceu para isso.
É verdade que, também nesse recorte, avançamos em quantidade de alunos presentes em sala de aula. Mas isso é muito pouco. A assiduidade e o resultado do aprendizado continuam colocando o país na rabeira mundial da eficiência. Ora, não precisa de indicadores para perceber que nossos estudantes estão saindo do ensino fundamental e médio muitas vezes sem preparo intelectual suficiente para o mercado de trabalho. Não são raros os casos em que não sabem ler e escrever adequadamente, tampouco fazer operações aritméticas primárias.
Há mais de 40 milhões de brasileiros na educação básica, o que corresponde praticamente à população espanhola inteira. Não há dúvida de que, se nessa fase tivéssemos um bom resultado, o país iria melhorar todos seus demais índices de desenvolvimento econômico e social. Seria um círculo virtuoso. Ora, quando a personalidade do indivíduo se forma, o que ocorre nessa faixa etária, é hora de fazer o melhor dos plantios. E é isso que não estamos conseguindo realizar.
Eu poderia cansar o leitor com números e estatísticas para provar o que estou dizendo. Mas, além de tornar o texto pesado, esses dados de apoio sequer são necessários diante da constatação óbvia: a educação brasileira está longe de alcançar o patamar que desejamos e podemos. A começar pelo papel do professor, desvalorizado em sua carreira e muitas vezes desrespeitado até mesmo em seu ambiente de trabalho.
O ajuste fiscal é necessário para sair da crise, sem dúvida. Mas uma nação não se sustenta remando de um ajuste a outro, sem mexer em questões estruturais que sejam decisivas para mudar o seu futuro. A educação é a mola propulsora para o salto de qualidade que tanto desejamos. É a grande chave do desenvolvimento, da inclusão e da emancipação individual. Abre portas, liberta, inclui, gera emprego e renda.
Tivemos avanços nos últimos anos, como procurei demonstrar. O atual ministro da área, Renato Janine Ribeiro, é preparado para o desafio. O governo aponta a educação como sua prioridade. Mas precisamos acelerar o passo, especialmente a partir de investimentos e ações mais assertivas no ensino fundamental e profissionalizante. Não basta apenas a estratégia da Pátria Educadora. É preciso tática para virar esse jogo. Ou, em outras palavras, ação!




