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14.03.2011

O Brasil na contramão dos “carros verdes”

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Ao longo dos últimos anos, os argumentos ambientalistas saíram de pequenos grupos para alcançar a maior parte da população. Trata-se de um avanço notável, necessário e em plena expansão. O movimento teve o primeiro impulso no âmbito da sociedade civil – seja através da consciência individual ou da reunião de pessoas em defesa dessa bandeira comum. Em um segundo momento, foi a vez de o setor corporativo aderir. E eis que, hoje, a internalização do conceito da sustentabilidade não é um capricho das empresas, mas algo cada vez mais exigido pelo próprio mercado consumidor.

Entretanto, para que essa postura produza efeitos ainda mais significativos, é necessário que ela seja reforçada por iniciativas governamentais de largo alcance. Em outras palavras: políticas públicas que sintonizem um triângulo virtuoso envolvendo cidadãos, organizações e governos. A ativação dessa tríade é que mudou o patamar de muitos países em relação ao meio ambiente. Para melhor ou para pior, o andamento desse processo depende de todos seus atores.

No Brasil, infelizmente, o setor público é o vetor que está mais em débito no que lhe compete. Uma das evidências do seu descompasso é a falta de apoio à compra dos chamados “carros verdes”. Tal fato já é, em si, um flagrante contrassenso com a atitude precursora que pretendemos ter nesse quesito. Se houvesse uma redução na tributação dos automóveis elétricos ou híbridos, com certeza as montadoras do país já estariam produzindo em quantidade veículos deste tipo.

A raiz do problema está na legislação antiquada que o Brasil possui, alheia aos novos tempos e a léguas de boa parte do mundo desenvolvido e emergente. Os tributos são baseados no tipo de motor dos carros, desconsiderando se eles são menos prejudiciais ao meio ambiente. Assim, quem adquire um automóvel ecologicamente mais correto acaba pagando 25% de IPI, 12% de ICMS, IPVA e outros impostos. O resultado é que, dentre os poucos modelos à venda no País, nenhum sai por menos de R$ 100 mil. Por outro lado, os veículos 1.0 vêm recebendo uma forte política de incentivo, incluindo isenção e redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados. Não que haja erro aí; o equívoco está na sobretaxação do outro.

Ao levar adiante essa incoerência, o Brasil se coloca na contramão do século XXI. Colher experiências bem-sucedidas de fora pode ser um bom ponto de partida para a reversão desse quadro: países europeus e o Japão taxam menos os “carros verdes” e ainda oferecem bônus de até US$ 5 mil para os compradores; nos Estados Unidos, os preços dos automóveis híbridos são acessíveis – e não proibitivos – à população. Por aqui, há sensibilidade dos consumidores aos produtos menos danosos à natureza e empresas dispostas a investir em novas soluções. Agora é a hora de os governos também fazerem a sua parte.