11.04.2011
Por uma nova relação com a China
por Germano Rigotto
O estabelecimento de relações desiguais entre nações fez surgir o que a história chamou de neocolonialismo – que se estendeu do século IXX ao início do XX e contrapôs a Europa à Ásia e à África. Potências industrializadas exportavam seus produtos manufaturados aos países menos desenvolvidos. Em troca, importavam commodities e apropriavam-se de territórios alheios. Assim, resolviam seus problemas de esgotamento de matérias-primas e alimentos, desequilíbrio da balança comercial e escassez de terras.
Claro que os tempos mudaram e as atuais configurações sociais e econômicas do mundo são diferentes. Contudo, a relação entre o Brasil e o seu principal parceiro comercial – a China – tem assumido contornos semelhantes aos daquele período. A constatação foi reforçada recentemente por David Shambaugh, diretor do Programa de Políticas Públicas da China da Universidade George Washington, que projeta, explicitamente, o risco de nosso País tornar-se excessivamente dependente.
Aparentemente catastrófico, o alerta precisa ser recebido com seriedade e abertura. Isso porque, infelizmente, encontra respaldo nos fatos: hoje, nossas remessas ao país asiático são resumidas basicamente a três itens: soja, minério de ferro e petróleo. Estatais e investidores chineses começaram uma ofensiva na aquisição de terras, minas e empresas brasileiras. Enquanto isso, exportam elaborados e semielaborados. E eis que, nesse somatório de circunstâncias, nossa relação comercial vai ficando cada vez mais desfavorável.
Por ora, o intenso intercâmbio com o maior mercado consumidor do mundo transmite a sensação de bons negócios – e realmente traz consigo excelentes oportunidades. Entretanto, a persistirem os atuais critérios, o pendor tende a favorecer excessivamente o dragão asiático em detrimento de nosso setor produtivo – leia-se: de nosso equilíbrio econômico. Afinal, estamos trocando commodities por produtos com maior valor agregado – e o custo não poderia ser outro senão o enfraquecimento e a perda de mercado da indústria nacional. Tudo isso sem falar na prática rotineira de dumping e na perversa política cambial chinesa.
A viagem da presidente Dilma Rousseff à China, portanto, não poderia ocorrer em momento mais adequado. Por óbvio que o declínio da nossa competitividade tem a influência de fatores internos, tais como câmbio supervalorizado, carga tributária excessiva, juros estratosféricos e infraestrutura precária. Porém, já é hora de pontuar uma relação diferente com os chineses, agindo com mais firmeza e rapidez no comércio internacional. Quando necessário, inclusive, é preciso recorrer à Organização Mundial do Comércio para aplicar salvaguardas transitórias e outras medidas de defesa. Os traços de neocolonialismo que permeiam essa parceria devem permanecer em seu devido lugar: no passado.




