27.04.2015
Em busca de uma nova Petrobras
por Germano Rigotto
Ao lado de cifras e percentuais negativos, o balanço consolidado de 2014 da Petrobras apresenta pelo menos um sinal positivo. A divulgação de números desfavoráveis – e absolutamente incontestáveis – relacionados à corrupção e à má gestão sugere que a estatal está ciente de que a verdade é o melhor remédio para superar seus desmandos.
E não há o que discutir. Foi o primeiro resultado negativo em quase 25 anos, totalizando um prejuízo de R$ 21,5 bilhões. Desse montante, R$ 6,2 bi têm relação direta com a corrupção – isso para ficar apenas em 2014. A própria companhia admite que R$ 50,8 bi foram perdidos em esquemas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas dos períodos anteriores.
Tudo isso vem decompondo a imagem da empresa diante de investidores e analistas. Foi apurado um impairment – inglês para deterioração – nos ativos da companhia de nada menos que R$ 44,5 bilhões. Como se não bastasse, a Petrobras é a petrolífera mais endividada do mundo: o passivo já chega a R$ 350 bilhões, um aumento de 31% que reduz ainda mais a capacidade de tomar empréstimos para poder investir.
Ao tornar público esses números – ainda que com atraso – a estatal parece querer iniciar um processo de resgate de sua credibilidade. Ter o balanço aprovado sem ressalvas por uma auditoria externa independente foi um tímido primeiro passo nessa direção. Em breve, também deverá ser divulgado um plano de negócios, mostrando o que será investido este ano e como pretende enfrentar o futuro.
Mas isso, é claro, não é o suficiente. Para além das palavras e da boa intenção, a Petrobras precisa ter muito mais competência gerencial e muito menos interferência política nas suas decisões. Requer, sobretudo, uma gestão voltada a resultados, com planejamento, regulação, controles e transparência. Algo que, como mostra o balanço, não aconteceu na empresa.
Assim como o Governo Federal, a Petrobras sofre uma crise de confiança. Vimos, na semana que passou, um pequeno avanço para que sua reputação seja recuperada. É um processo ainda embrionário, mas fundamental para que a companhia se reconstrua – e volte a ser a que mais investe e a que mais gera empregos diretos e indiretos no país.




