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11.07.2011

A perigosa tendência de desindustrialização

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Na última sexta-feira, dia 8, trabalhadores ligados às principais centrais sindicais do Brasil pararam a Via Anchieta (em São Paulo), uma das estradas de maior movimentação de todo o país. A manifestação procurou demonstrar os prejuízos causados pela importação desenfreada de produtos, especialmente da China.

Alguns dados divulgados pelos organizadores ilustram essa preocupação: em 2010, 103 mil empregos deixaram de ser criados na cadeia automotiva por conta da importação de veículos; a participação da indústria de transformação no PIB caiu de 27,2% na década de 80 para 15,9% em 2010; também no ano passado, as exportações de alumínio cresceram 21%, enquanto as importações aumentaram 79%; no setor de eletrodomésticos, essa relação foi de 2% para 40%; no de bens de capital, de 21% para 33%.

Setores empresariais têm revelado as mesmas apreensões. A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), por exemplo, aponta que o déficit nacional de tecnologia cresce cerca de 20% ao ano e caminha para ultrapassar 100 bilhões de dólares em 2011. Fábricas de chips e de outros componentes eletrônicos já não fazem os produtos do começo ao fim. Agora, parte vem pronta de fora. E o empreendedor tem motivos para isso: os preços são mais baixos do que se fossem produzidos aqui.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial mostra que, nos primeiros cincos meses de 2011, o crescimento industrial não chegou a 2%, muito longe da taxa alcançada anteriormente (17,3%). O encolhimento da produção tem sido generalizado em diversos setores: alimentos, bebidas, indústria têxtil, vestuário, calçados, edição e impressão, perfumaria, produtos químicos, mobiliário, máquinas para escritório e equipamentos de informática. É grande o número de segmentos com flagrante perda de dinamismo ou mesmo retração absoluta.

Mais: o desempenho de nossas exportações é excessivamente dependente de commodities (71%) e carente de elaborados e semielaborados (29%). Nossa defesa comercial é tímida e lenta. A taxa de juros destoa do padrão mundial e incentiva o ingresso de capital especulativo. O sistema tributário onera investimentos e exportações. Isso tudo sem falar no maior problema de todos: a supervalorização cambial. Desde 2003 até hoje, o real cresceu surpreendentes 39% frente ao dólar.

O otimismo dos últimos anos em relação à economia brasileira foi justificado. Porém, sempre estive dentre os que sugeriram prudência e “pés no chão”. Ora, não há registro de desenvolvimento sustentável sem um parque industrial vigoroso e competitivo. Não podemos nos conformar com crescimento de tiro curto, tampouco com bolhas de expansão. Se já une trabalhadores e empresários, a temática da desindustrialização precisa agora estar no topo da pauta nacional. É hora de agir certo e rápido para reverter essa tendência.