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20.04.2015

O problema – e a solução – da indústria

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Procure analisar a história de nações que tiveram, desde as últimas décadas, um ciclo sustentável de desenvolvimento econômico. Você perceberá que, na base de todas elas, está o setor industrial. O contrário também é pedagógico: países com ciclos meramente fugazes de crescimento não se mantiveram em alta também pela falta de uma indústria forte.

Esse segmento é decisivo pela sua importância de escala e de agregação de valor, com grande potencial para geração de emprego e renda. Ele age em cadeia, levando consigo fornecedores e diversas atividades paralelas. É interdependente, acionando desde quem fornece insumos até quem distribui e vende para o consumidor final. É o segmento mais multidisciplinar do mercado. Devido a essa capilaridade, costuma ser um termômetro da sustentabilidade de um país.

Tenho apontado que o Brasil não vem cuidando adequadamente do seu parque industrial. É verdade que acertou em diversos pontos nas últimas décadas, mas não cuidou de fortalecer sua indústria. O setor tem baixo potencial competitivo na comparação com os concorrentes mundiais. O Custo Brasil soma juros elevados, alta carga tributária, infraestrutura deficitária e uma pesada burocracia administrativa. Além disso, nossas empresas, não raras vezes, sofrem uma concorrência predatória vinda de fora – com uma resposta muito lenta dos órgãos de representação e controle.

Um exemplo claro desse decréscimo do papel da indústria são os números da área de transformação. Enquanto em 2004 o setor tinha uma participação de 19,2% no PIB brasileiro, hoje chega apenas a 12,5%. Em países como a China e a Coreia do Sul, alcança 31% do PIB. Mesmo assim, aqui contribui com 31,2% da arrecadação tributária nacional. Um evidente contrassenso.

Boa parte da crise que estamos vivendo hoje, especialmente no que diz respeito à desaceleração econômica, é causada pelo processo de desindustrialização do país. Além de não ter um plano industrial para as próximas décadas – sequer para os próximos anos –, o Brasil tem pouquíssimos acordos comerciais. Enquanto diversas nações fazem acordos bilaterais, nossa diplomacia segue excessivamente arraigada ao Mercosul. Não que devesse desprezar o bloco regional, mas já está mais do que provado que não podemos depender apenas dele.

Com tudo isso, vivemos também uma crise de confiança. O ingresso do ministro Joaquim Levy no comando da equipe econômica do governo federal deu início a um processo de arrumação, o que recupera alguma esperança. Entretanto, seu primeiro pacote de medidas, como era de se esperar, aumentou os custos de todo o país. Para a indústria, especificamente, além da redução do aporte de recursos e da elevação de juros, veio a diminuição da parcela financiada do PSI-FINAME e nas demais linhas do BNDES. Esses créditos eram a única ferramenta capaz de minimizar a perda de competitividade sistêmica da indústria nacional de máquinas e equipamentos.

Portanto, mesmo que o sentido do novo pacote econômico fosse compreensível, é certo que o país não poderá ficar só nele. O excessivo gasto com o tamanho do Estado, por exemplo, especialmente nas atividades-meio, é algo que não foi tocado. Essa mudança teria um valor simbólico relevante, além do que há margem para uma diminuição significativa sem qualquer prejuízo ao atendimento do governo ao cidadão.

Quem precisa de oxigênio neste momento é a sociedade e o setor produtivo, não apenas o Estado. A pauta da indústria não é corporativa, mas nacional. Ela não é problema para o país, mas uma de suas grandes soluções. Quando estivermos dedicados a resolver seus grandes gargalos, provavelmente estaremos num caminho de acerto em diversas direções. Um setor tão vital não pode ficar para depois.