19.09.2011
Queda de juros: reiterados motivos
por Germano Rigotto
Escrevi, há alguns dias atrás, logo depois do anúncio da redução da Selic pelo Banco Central, que os motivos para tal decisão eram justificadíssimos. Apontei que a única reação contrária vinha de “financistas” ligados ao capital especulativo, os quais se apressaram em lançar críticas com poucos fundamentos à medida. Recordei que, enquanto o Brasil fixava em 12% sua taxa básica de juros, em países como Estados Unidos, Japão e os europeus esse índice não passa de 1%. Analisei os cenários interno e externo para constatar que a crise global estava só no começo e que, inevitavelmente, respingaria por aqui. Era preciso reagir, pois, lançando mão da política monetária.
Recupero esse contexto para reafirmar as mesmas convicções e, depois de alguns dias, projetar que a tendência de queda terá de ser seguida nas próximas reuniões do Copom. Não por desejo ou motivação política, mas pela simples imposição da própria realidade. A crise recrudesce e a capacidade de reação dos países mais diretamente atingidos é menor do que outrora: além de já estarem endividados, suas contas estão comprometidas com altos déficits. No ambiente local, a queda de 36% no nível de geração de emprego em comparação ao ano anterior (dados de agosto) é um indicador suficiente, dentre tantos disponíveis, para apontar o desaquecimento da economia brasileira.
Os fatos se sobrepõem na mesma direção. Um dos mais recentes mostra que o sistema financeiro europeu continua desregulado e sem controles eficientes: o banco suíço UBS anunciou um rombo de 2 bilhões de dólares em suas contas e dois bancos franceses tiveram suas notas de risco rebaixadas. Nos EUA, o patamar de descontrole não é diferente. Consolida-se, diante de tudo isso, a avaliação de que a instabilidade e o pessimismo predominante nas decisões bancárias, empresariais e dos consumidores levarão a um crescimento baixo e declinante dos países desenvolvidos ao longo deste ano, isso para ficar na previsão mais otimista.
Outro aspecto, dessa vez interno, invoca um contra-argumento que precisa ser desconstituído: o risco de inflação. O Copom e o Banco Central já vinham dizendo, tanto em suas atas oficiais quanto através da manifestação de suas autoridades, que o aumento de preços deveria chegar a seu pico no final do mês de setembro e começo de outubro. Logo, as últimas elevações inflacionárias, e as que porventura ainda poderão ser apontadas nos próximos dias, não decorrem da diminuição da taxa básica de juros. Elas já compunham um cenário previsível e haverão de arrefecer, ao natural, com a ampliação dos efeitos da crise.
É verdade que o Brasil sinalizou uma mudança cultural com a recente redução da taxa Selic – e fiz questão de saudar o presidente do BC, Alexandre Trombini, por romper a barreira do conservadorismo e segurar o rojão das críticas. Não podíamos continuar na lógica dos juros estratosféricos apenas sob a pauta de alguns financistas e engessados por preciosismos retóricos da especulação. Mas, além disso, a decisão do Copom foi absolutamente técnica, madura e firmada em acontecimentos reais. A propósito: a Turquia, que já fora campeã mundial de juros, inverteu essa tendência – entre 2008 e 2009, o país baixou sua taxa básica de 16,75% para 6,5% ao ano – sem abalar seus padrões macroeconômicos e sem comprometer sua meta de inflação. O Brasil, diante dos novos motivos que surgem, precisa seguir nesse mesmo rumo.




