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9.02.2015

Indefinição custa caro

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Olhando de longe, governar parece ser a arte de decidir entre o bem e o mal. Se fosse só isso, já seria tarefa difícil, pois as aparências nem sempre condizem com a verdade. É preciso desvendar os disfarces para ter certeza do caminho. Mas a gestão pública nos coloca normalmente diante de dilemas ainda mais complicados: fazer escolhas dentre diversas alternativas razoavelmente boas. Nesse caso, a questão é optar pelo bem maior. Ou, então, entre diversas alternativas todas ruins. E, então, o desafio é optar pelo mal menor.

Nada disso é simples, mas é da própria essência da atividade executiva. É preciso decidir, tocar para frente, fazer acontecer – mesmo que, eventualmente, a resposta não tenha sido a mais adequada. Ninguém está obrigado a acertar sempre, mas o gestor precisa definir. A indecisão, a ausência de definição, a embromação e seus afins costumam ser tão ou mais negativos do que um ato equivocado. Escolher certo, quando tarde demais, também pode ser ineficaz.

O Brasil tem sido vítima desse desvio de propósitos. O caso da Petrobrás é um claro exemplo disso. O governo demorou demais para tomar uma atitude. A direção que acaba de sair, notadamente desgastada, se mantinha em uma certeza pueril, claudicante, que poderia ruir a qualquer momento – como foi o que aconteceu. As biografias, com base na presunção de inocência, precisam ser respeitadas, mas não a custo das instituições. Quando não há mais clima de governança, mesmo que inocentes, os dirigentes públicos precisam ser substituídos.

Não se trata só de decisão sobre pessoas, mas também de rumos. Veja-se o caso da política econômica. Não foi de uma hora para outra que a credibilidade do país caiu e a situação chegou a seu estágio atual. Foi um longo processo, que teve equívocos repetidos e incerteza nos rumos. O governo decidiu manter a equipe anterior do Ministério da Fazenda por muito tempo. Ou seja: mesmo reconhecendo que havia problemas, demorou em agir. O que demonstra fortemente uma dificuldade de analisar o ambiente e fazer interpretações corretas.

Essa não é uma característica apenas do atual governo. Basta analisar o caso das reformas estruturais, como a política, a tributária e a revisão do pacto federativo. Há esgotamentos identificados que remontam aos anos que se seguiram à promulgação da Constituição de 1988. Desde lá, portanto, as gestões que se sucederam foram empurrando o problema. Como qualquer caminho a ser seguido pressupõe contrariar interesses, optou-se por não caminhar. O resultado é que o Brasil, em diversos aspectos, se move com os pressupostos dos anos 80. É analógico diante de um mundo digital.

Um novo ciclo de dificuldades se desenha pela frente, tanto no cenário local quanto no internacional. Falo de crise e recessão. Mas, ao contrário de remeter a mais estagnação e indefinição, talvez esse seja o momento apropriado para o país desenterrar assuntos que pendem de revisão. Quanto mais demorarmos, mais viveremos de medidas meramente curativas e paliativas, que não projetam o Brasil para frente. A velocidade com que as pessoas, as coisas e os negócios se movimentam pedem uma nova dinâmica nas decisões da gestão pública.