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22.12.2014

Desafios e possibilidades de 2015

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Já não é mais dissenso: o ano de 2015 imporá inúmeros desafios para o Brasil. Passado o calor do debate eleitoral, analistas de diversas vertentes, governo e oposição, consultores e formadores de opinião, acadêmicos e operadores, sindicalistas e empresários, setor público e privado, enfim, todos sabem que se avizinha um período de consideráveis dificuldades. Aqui e lá fora.

O horizonte internacional tende a trabalhar contra. A crise recessiva na Europa não está resolvida, antes pelo contrário. Nações como Grécia e Rússia estão financeiramente esgotadas e contaminam outros países. A América Latina tem um relacionamento comercial precário, além de costumeiras periclitações políticas. Os Estados Unidos, depois de enfrentar positivamente a crise de 2008, sinalizam para um ano de arrumações, com aumento dos juros. A China está revendo seu crescimento para baixo. Os mercados desenham um clima de, no mínimo, certa cautela.

Por aqui, a atual política econômica, em suas vertentes monetária e cambial, se mostrou insuficiente. A inflação está fugindo da meta, o crescimento do PIB é pífio, o gasto público chegou a níveis exorbitantes, as contas externas deterioraram, a indústria sofre um processo de enfraquecimento, o nível de endividamento das famílias é recorde, a taxa de poupança é baixa, os juros são dos maiores do mundo, a carga tributária é perversa com que trabalha e produz, a previdência acumula rombos crescentes. Não é um disparate cogitar que todo esse caldo acabe deteriorando aos poucos também o mercado de trabalho. Chegou a hora de fazer um freio de arrumação na economia nacional.

Nosso setor produtivo é forte e competente. Porém, seguimos tendo uma pauta de exportação centrada em commodities. Isso é bom por um lado, pois a demanda por alimentos no mundo não deixará de existir. Sinal de perenidade. Por outro lado, mostra que nossa capacidade de agregar valor é subaproveitada. Estamos entregando produtos in natura para que, lá fora, fornecedores catapultem suas taxas de lucro. Sinal de incapacidade. O Custo Brasil joga contra nossa competitividade.

O remédio amargo do ajuste fiscal se tornou inevitável. É como um tomar um medicamento gastrointestinal depois de um jantar em que cometemos o pecado da gula. Só que, além de esperar que a pílula faça efeito, precisamos cuidar para não repetir os mesmos excessos nas refeições seguintes. Metaforicamente, esse é o ponto pelo qual a economia brasileira terá de passar. É o freio de arrumação que referi acima. Não para parar tudo e começar do zero. Mas, sim, para corrigir urgentemente o que está dando errado.

O ajuste, em que pese necessário, gera um alto preço no cotidiano do desenvolvimento. É provável que diminua a capacidade de investimento público, por exemplo. E isso é péssimo para um país cuja infraestrutura se mostra absolutamente esgotada. Esse estágio, por outro lado, pode gerar um ambiente para destravar definitivamente as parcerias público-privadas. Tivemos avanços nesse sentido, como no caso dos aeroportos, mas a velocidade dessas contratualizações tem de aumentar. Há quem queira investir, há a necessidade latente, mas tem que haver um regramento que dê segurança e que incentive os investimentos em infraestrutura.  O Brasil tem que crescer, seja por água, terra ou ar, e não pode mais esperar tanto tempo.

Por aí, começo a desenhar as possibilidades de 2015. Temos muitos problemas, sem dúvida. Não fizemos adequadamente o dever de casa nos últimos anos. Mas os nós são muito menores do que a força que temos para desatá-los. Somos um povo inventivo, trabalhador, esperançoso. Temos um potencial natural como nenhum outro país. Somos vocacionados para produzir. Mas precisamos despertar do berço esplêndido e ir ao encontro, com mais pressa, da nação que efetivamente podemos ser.

O próximo ano pode ser esse momento. Mas tudo passa pela política. É preciso criar um ambiente propício para que as mudanças possam acontecer. Nota-se certa aspereza e rivalidade entre os principais atores da nossa cena, fruto do recente embate eleitoral. Esse quadro só irá mudar com uma agenda nacional que efetivamente dialogue com os interesses dos brasileiros, que proponha mudanças e modernizações, que desenhe um planejamento para os próximos anos. Que convide, enfim, para o futuro.

O pacto federativo precisa ser revisto, definindo melhor as atribuições de cada ente e seus respectivos financiamentos. Não há mais espaço para tanta preponderância de um poder tão centralizado diante de um país continental, com tanto protagonismo das comunidades locais. O sistema político, sequer é necessário provar, está esgotado. Deve ser modificado estruturalmente. O sistema tributário inibe a força produtiva e penaliza especialmente os mais pobres. Pede uma racionalização, uma simplificação, uma modernização.

Natal e virada de calendário são bons insumos para fazer fortalecer mudanças em todas as direções. É tempo de novas energias. É tempo de acreditar de novo. É tempo de começar mais uma vez. E o ponto de partida pode ser a realidade de cada um de nós, das nossas famílias, das nossas carreiras profissionais, das nossas empresas, dos nossos círculos sociais. A melhor maneira de mudar o mundo é começar pelo que está perto. A partir disso, tudo confluirá a favor.

E exijamos o mesmo do nosso país. O gigante, que teima em adormecer, precisa ser acordado todos os dias. Não com protestos violentos, mas com a força da cidadania, em todos os espaços que possamos ocupar. Com consciência, com civismo, com mais informação, com esperança. Os problemas estão mais em nós mesmos do que nas adversidades externas. Então, podemos avançar. E é nessa grande margem para avanços que estão as maiores possibilidades de 2015. E, repito, elas são muito maiores do que as nossas dificuldades.