24.11.2014
Critérios e escolhas
por Germano Rigotto
Não sou dos que satanizam a presença de quadros políticos em ministérios ou secretarias de Estado. Pelo contrário: acredito que essa fórmula, mais do que compreensível, pode ser até mesmo produtiva e eficiente. A questão está em como aplicá-la. Isto é, não fazer que este dado – o capital eleitoral – seja o principal ou único critério de valoração para preenchimentos das equipes de governo.
No Brasil, e não é de hoje, o que vemos é a subjugação das gestões às burocracias partidárias. Isso teria algum sentido se, em si, os partidos tivessem determinada linha conceitual. Se assim o fossem, a indicação dos nomes teria mais chance de ir ao encontro das ideias da agremiação. Mas não é o que acontece. A identidade ideológica e programática praticamente sucumbiu, o que impede que os quadros tenham aderência a qualquer conteúdo politicamente coerente.
Quando o governo se rende à repartição do poder com base em tal pressão, não poder haver outra coisa que não a sucessão de escândalos de corrupção. A maioria dos postos são preenchidos dentro da lógica do fisiologismo: arrecadar dinheiro e amealhar benesses para partidos e correligionários. É o que os indicados saem a fazer. E eis que a gestão se transforma em pequenas máquinas e guetos a serviço de qualquer outro objetivo que não o bem comum.
Então, não se trata apenas dos nomes ou de suas origens funcionais, mas da motivação que conduzem tais figuras à Esplanada dos Ministérios e aos principais cargos da República. Sejam técnicos sem votos ou políticos bem votados, quando o substrato da nomeação é essa seara de contradições, o resultado tende a ser o que estamos vendo. Vide Petrobrás. Não podemos esperar roseirais quando plantamos cactos. É o caso.
Claro que essas constatações evidenciam o que temos repetido aqui: há uma necessidade urgente de reformas estruturais em nosso país. Porém, não nos enganemos achando que o financiamento público de campanhas resolverá esse problema. A captação ilegal de recursos, nos moldes do que acontece hoje, não deixará de existir apenas com essa troca. As mudanças precisam ser muito mais amplas e profundas do que isso.
Mas, enquanto as grandes reformas não acontecem – e não parece haver disposição para fazê-las –, é possível dar um direcionamento mais adequado na formação das equipes de governo. A presidente Dilma será bastante testada a respeito disso durante as próximas semanas. Os primeiros nomes que apareceram para a equipe econômica mostram existir uma disposição nesse sentido. São figuras com competência e respeitabilidade. Mostram a correta preocupação com os rumos da nossa economia. Não se pode retroceder.
O certo é que os critérios e as escolhas para compor o novo ministério serão uma sinalização importante, tanto para dentro e para fora do governo. É o grande desafio do começo do novo mandato presidencial. Desse período de transição pode advir uma nova energia político ou, o que não desejamos, o agravamento de um clima de descrédito que ronda nosso cotidiano. Os acertos ou os erros de agora são decisivos.




