27.10.2014
O que vem pela frente
por Germano Rigotto
Passada a eleição, a presidente Dilma Rousseff terá pela frente uma série de desafios. O primeiro deles, inequivocamente, é político. Não partidário, mas político – repito. Não se trata apenas de compor interesses, mas de sinalizar pela conciliação. Isso porque a divisão e o acirramento de ânimos tomaram conta de grande parte da sociedade. Ungida pelas urnas, Dilma precisará fazer um grande esforço para arrefecer o tom beligerante que marcou a disputa. Em seu discurso da vitória, no domingo à noite, ela começou a trilhar esse caminho. Mas terá de confirmar a mesma disposição nas próximas semanas.
O governo precisará mudar, e isso, mesmo reeleita, a própria presidente reconheceu. O primeiro passo são os nomes e o perfil da equipe. A composição pela governabilidade é método quase inevitável do nosso sistema. Mas o novo mandato não poderá mais ficar meramente refém desse jogo de interesses por cargos, espaços e salários. É uma fórmula falida e rejeitada pelas ruas. O protagonismo pessoal de Dilma precisará aumentar. O contorno de sua liderança deve ser reforçado com gestos e medidas que a legitimem de maneira mais clara.
É inevitável a substituição da equipe econômica. Vivemos, claramente, um ciclo de esgotamento produtivo do país. A desindustrialização é um dado da nossa realidade. A inflação ronda o cotidiano. O Custo Brasil bate recordes. A credibilidade interna e externa está sendo questionada, especialmente depois de o governo ter lançado mão de artificialidade contábil na gestão das contas públicas. Isso não pode ser assim. E não se trata de um debate político-eleitoral, até porque já é parte do passado. Falo de mudanças que importam ao país, indispensáveis para manter as conquistas das últimas décadas. A presidente terá de encontrar uma nova fórmula para a gestão econômica da nação.
A inflação precisa ser trazida para dentro da meta. A política fiscal, idem. Chegou a hora de rever os gastos do aparato estatal, não para tirar do essencial, mas justamente o contrário: para prestigiar o essencial cortando o supérfluo. E há muito supérfluo, a começar pela quantidade exagerada de cargos que circundam o poder central. Chegou a hora de romper a cultura patrimonialista brasileira, que não começou agora, mas que o atual governo não conseguiu diminuir. O novo mandato tem o desafio de adotar um posicionamento mais austero na condução do governo.
No ambiente do mercado, o desafio é enfrentar a perda de competividade das nossas empresas na exportação. O déficit na balança comercial flagra esse processo. O Brasil precisa reforçar a confiança do investidor, o que só será possível mostrando disposição para fazer reformas estruturais, especialmente a política, a tributária e a revisão do pacto federativo. O valor da mudança deve transportar-se da retórica para a prática, da comunicação para a ação do novo governo. A presidente Dilma conquistou a maioria dos votos e está legitimada para seguir adiante. Que saiba compreender o tamanho dos desafios, interpretar serenamente a vitória das urnas e fazer as transformações que a nação continua pedindo.




