1.09.2014
Recessão técnica e real
por Germano Rigotto
Recessão técnica é um nome rebuscado para algo presente no ambiente dos mercados e mesmo no cotidiano das nossas famílias. A economia está desaquecida, os investidores estão em fase de retenção, a inflação dá sinais de recrudescimento. Claro que, em tempo eleitoral, as notícias negativas são superlativadas. E isso gera um clima amplificado de turbulência. Mas é assim mesmo que funciona: além da crise propriamente dita, influi a expectativa de que o processo se agrave.
Vivemos um esgotamento estrutural em diversas direções. Nas últimas décadas, atuamos sobre bases econômicas medianamente corretas. Mas, no dia a dia das movimentações financeiras, o nosso transatlântico dava sinais de que poderia ter problemas. Avançamos, mas ficamos reféns de do setor primário, não diminuímos o Custo Brasil, não valorizamos nossa indústria, não diminuímos os gastos do Estado e não fizemos reformas essenciais que se mostravam necessárias.
O agronegócio brasileiro foi e continua sendo nossa grande fonte de equilíbrio, e essa é uma ótima notícia. Com uma demanda cada vez maior por alimentos no mundo, trata-se de um caminho sem volta. O mundo vai continuar querendo – e precisando – dos nossos alimentos. O problema é que o grande montante da nossa exportação é de produtos in natura, sem valor agregado. Os elaborados e semielaborados são a parte menor da nossa balança comercial.
Descuidamos da nossa indústria. Essa é uma das causas mais diretamente ligadas ao baixo crescimento do PIB. O mesmo já ocorreu em outras nações: grandes crises foram antecedidas pela destruição dos parques fabris. É duro constatar que estamos vivendo essa mesma degradação. Surgem respostas aqui e acolá, mas elas não vão ao centro da questão, que é diminuir o Custo Brasil e criar uma política industrial de longo prazo.
O somatório de juros, câmbio, carga tributária e infraestrutura defasada abatem de frente nossa capacidade industrial. A competitividade com os importados fica inviável. Há relatos, em vários setores, de produtos que chegam absolutamente prontos no Brasil, e aqui só recebem o selo ou a etiqueta. Além disso, não temos planejamento. Enquanto a China projeta olhando 30 anos adiante, nós não sabemos o rumo para o próximo triênio.
O custo do Estado é um ingrediente que agrava esse caldeirão. Os problemas fiscais brasileiros aumentam. E, mesmo com mais gastos, os setores prioritários continuam com serviços públicos defasados, como é o caso da saúde, da educação e da segurança. Estamos gastando muito e gastando mal, essa é a constatação inescapável. Arremedos contábeis não podem disfarçar o que a realidade está mostrando.
Toda essa situação pode ser resumida num dos dados divulgados pelo IBGE: a queda de 5,3% nos investimentos, isto é, na diminuição bruta de capital fixo. É o reflexo mais claro de uma situação de desconfiança, de retenção, de encolhimento. É a evidência de que, como estamos alertando em nossos espaços há muito tempo, o Brasil precisa deixar o berço esplêndido e querer mais do que a estabilidade e a ascensão de classes sociais. As conquistas do passado não são combustíveis suficientes para encarar o futuro.
Vai ficando evidente a necessidade de mudar a área econômica. Seja Dilma, Aécio ou Marina, o próximo presidente precisará ter habilidade para montar um time que, além de dar respostas imediatas, consiga conduzir as reformas estruturais de que precisamos. O ano de 2015 será inevitavelmente difícil para a nossa economia. O próximo governo terá de gerir a crise ao mesmo tempo em que dá um novo rumo para o país.




