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25.08.2014

Crédito e consumo: isso basta?

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O Governo Federal anunciou, na última semana, novas medidas de ampliação do crédito e incentivo ao consumo. O pacote teria potencial para injetar R$ 25 bilhões no mercado, mobilizando especialmente os setores imobiliário e de automóveis. Algumas mudanças também querem desburocratizar o processo de compra e venda, aumentar a segurança jurídica e reduzir o custo dessas operações.

 

O conjunto de propostas é uma reação à estagnação econômica pela qual passa o país. Nesse sentido, não há dúvida de que há muitos aspectos positivos nas alternativas apresentadas. A simplificação das transações comerciais, por exemplo, é um avanço que ficará incorporado mesmo depois que o turbilhão passar. A mobilização do consumo é outro fator importante para buscar a ativação dos mercados.

 

Entretanto, há algumas dinâmicas que precisam ser consideradas. O endividamento das famílias, já em escalas preocupantes, tende a aumentar ainda mais. Além disso, o Brasil possui uma das piores índices de poupança do mundo. Trata-se de uma questão cultural, que gera insegurança e dependência de agentes externos na hora de investir ou mesmo de enfrentar uma urgência. Os dois processos, necessariamente, se agravarão.

 

Outra questão: o incentivo ao consumo, por si só, não chega a gerar uma movimentação em todas as cadeias produtivas beneficiadas. A vantagem fica restrita ao produto final. A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) vem alertando sobre isso há bastante tempo. Basta ver que, quando as montadoras de automóveis bateram recordes de venda, a cadeia produtiva do setor automotivo viveu seus priores momentos.

 

O mesmo ocorre no segmento têxtil. A compra de produtos acabados está em alta, mas o déficit da balança comercial do setor é enorme. Mesmo na linha branca, que obteve benefícios como a redução do IPI, o que gerou aumento de faturamento das montadoras, a participação dos componentes nacionais diminuiu consideravelmente. Quem cresceu foram os importados.  O setor de máquinas e equipamentos também vive uma situação de déficit.

 

Nosso parque industrial, portanto, não conseguiu sentir o resultado de medidas desse tipo, já tomadas em outras oportunidades. O índice que mede o nível de utilização da capacidade instalada do setor é o menor das últimas décadas. Todos esses dados mostram, de maneira muito clara, que estamos combatendo os efeitos, mas esquecendo das causas. A desindustrialização do país é um processo gradual e severo, que ainda não foi efetivamente combatido. Enquanto a China projeta sua indústria para os próximos 30 anos, há vários governos não sabemos nosso rumo sequer para o próximo triênio.

 

As novas medidas, portanto, são positivas, mas inequivocamente insuficientes. São paliativos reutilizados. A experiência recente mostra que a reação a esse tipo de remédio tem sido cada vez mais tímida. O “paciente Brasil” não dá respostas tão animadoras. Essa mesma estratégia já foi usada e, ainda assim, continuamos marcando um crescimento muito baixo do PIB. É preciso mais.

 

Por fim, a última e mais importante evidência que salta aos olhos é a necessidade de fazer reformas estruturantes. O assunto tem se tornado um mantra nos meus espaços de opinião, mas não podemos parar de repetir. Espero, a propósito, que esse venha a ser o grande tema das eleições presidenciais. Ou mudamos e modernizamos nossa estrutura tributária e federativa, ou continuaremos enxugando gelo. Essa é a grande verdade. O Brasil precisa reformar-se.