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18.08.2014

Eduardo Campos: o país diante da política

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O trágico falecimento de Eduardo Campos, mais do que comover a nação, colocou o país diante da política – em todos os sentidos. O ex-governador fez perceber que, mesmo num ambiente tão desgastado, a postura e as escolhas podem diferenciar as personalidades. Da direita à esquerda, dos militantes aos intelectuais, todos o respeitavam. A costumeira generalização, que nivela integralmente os políticos por baixo, ruiu nos últimos dias.

A trajetória de Campos mostra essas diferenças. Neto de Miguel Arraes, ele se manteve ideologicamente ao lado das bandeiras defendidas por seu avô. Ao mesmo tempo, soube ser um governador pragmático e realizador. Governou como um homem do seu tempo, com foco no resultado, calcado no realismo do cotidiano.

Foi, inequivocamente, um homem de diálogo. Construiu pontes em vez de dinamitá-las. Arquitetou sua candidatura à Presidência da República com incomum habilidade. Transitou por diversos terrenos sem perder seus próprios vínculos. Sabia expor e contrapor ideias, sem perder aquela ternura pernambucana de ser.

Nas últimas vezes em que falei com ele, e foram algumas vezes nas últimas semanas, Eduardo procurou primeiro saber sobre minha própria vida. Não da política, mas das questões pessoais.  O jeito amigo se sobrepunha ao candidato. Claro que, na sequência, derivamos nosso assunto para as questões do país, ambos compartilhando percepções muito semelhantes sobre a necessidade de avançar.

Eduardo reconhecia as conquistas macroeconômicas e sociais que o país alcançou. Equilibrado e justo, via mérito tanto nas gestões tucanas quanto nas petistas, mas sinalizava o esgotamento dessa polarização. Pedia a renovação das pautas nacionais, um novo ciclo de reformas e mudanças.

Os rumos do próximo pleito se tornaram completamente imprevisíveis. Precisaremos esperar as próximas semanas para saber o comportamento do eleitor. Mas é certo que o conteúdo das pregações e da história de Campos ecoará muito até outubro. Político jovem, amado tanto em vida quanto depois da morte, rodeado de muitos filhos, herdeiro de uma história de lutas, gestor eficiente, ele desenhou um capítulo inesperado e marcante na história recente da política nacional.

Que sua morte, apesar da dor, não seja em vão. Estamos ainda sentidos e em estado de choque. Ao ver as imagens do enterro ontem, nos enlutamos ainda mais. Temi que muitas esperanças pudessem estar indo junto com ele. Será preciso reverter esse sentimento, transformando a dor e o desânimo na crença de que é possível e de que podemos fazer mais. E é possível, e podemos. Afinal, como disse Eduardo Campos em suas últimas frases públicas, não podemos desistir do Brasil.