28.04.2014
A Copa e suas possibilidades
por Germano Rigotto
Estamos a poucos dias do início da Copa do Mundo no Brasil. Até aqui vivemos um intenso debate sobre a conveniência desse evento em nosso país. Quase todas as críticas foram coerentes sobre a inversão de prioridades governamentais, o excesso de intervencionismo externo, a possibilidade de desvios e superfaturamentos e a demora na execução de obras. Eu mesmo, em todos os espaços que ocupo, sempre procurei sublinhar essas temáticas. E acredito que toda a discussão foi oportuna e pedagógica. Não sei se causará as mudanças que tanto queremos, mas é certo que colocou a população a pensar mais sobre os rumos da nação.
Entretanto, agora chegou o momento de, sem perder o juízo crítico, preparar o país para o grande acontecimento, aproveitando ao máximo as chances que dele surgirão. Não se trata de virar a página, mas de constatar que, mesmo com todos os problemas identificados, a Copa tem tudo para deixar um bom legado ao país – para além de estádios ou espetáculos futebolísticos.
Um bom paradigma de comparação é a Copa das Confederações, realizada no ano passado. Levantamento feito pela Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas (Fipe), da USP, mostrou que o torneio acrescentou R$ 9,7 bilhões ao PIB brasileiro. Para a Copa do Mundo, a expectativa é de um movimento pelo menos três vezes maior que esse, isto é, cerca de R$ 30 bilhões. Se a cifra for confirmada, ela ultrapassa o montante gasto diretamente com o certame em estádios, aeroportos, portos, segurança, telecomunicações e obras de mobilidade urbana.
Os estádios realmente são os investimentos mais questionáveis. Dos R$ 8 bilhões que custaram as 12 novas arenas, o governo federal financiou cerca de metade desse valor através do BNDES. O valor, porém, deverá voltar para o banco estatal com juros e correções condizentes. Além disso, os próprios estádios têm potencial para movimentar mais o mercado de futebol e espetáculo.
Há muitos outros investimentos estratégicos cujos benefícios não ficarão adstritos à Copa. Segundo dados, assim foram distribuídos os R$ 17,6 bilhões usados para o torneio, entre dinheiro público e privado: R$ 200 milhões em turismo; R$ 600 milhões em portos; R$ 6,3 bilhões em aeroportos; R$ 1,9 bilhão em segurança; R$ 400 milhões em telecomunicações; e R$ 8 bilhões em mobilidade. Ou seja: muitas obras ficarão para sempre incorporadas ao cotidiano dos brasileiros.
Veja-se o caso do valor empregado em mobilidade. A cifra contempla 42 projetos urbanos, que beneficiarão a população de 12 cidades-sede da Copa. Aí estão incluídos acessos a aeroportos, novas vias urbanas, corredores de ônibus, ampliação do transporte público, estações de metrô, corredores de ônibus, terminais de interação, dentre outros avanços. Mesmo que isso seja uma contradição, o fato é que a ocorrência de um dos maiores eventos esportivos do planeta acelerou essas realizações.
A Copa do Mundo também traz consigo uma grande oportunidade para negócios e turismo. A das Confederações, em 2013, gerou 303 mil empregos, de acordo com a Fipe. Agora esse número deve triplicar. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o campeonato mundial vai injetar mais de R$ 142 bilhões na economia brasileira, se contarmos de 2010 a 2014. Durante a Copa, só o setor de turismo irá fazer surgir cerca de 47,9 mil vagas.
O Brasil estará na vitrine internacional, isso é inegável. Logo, a oportunidade não pode ser desperdiçada. Mais de 600 mil turistas de outros países devem circular pelo país, além de três milhões de brasileiros. Isso tende a movimentar um valor estimado em R$ 25 milhões, segundo a Embratur.
Todo esse arrazoado não quer, sob nenhuma hipótese, desconstituir o debate sobre as contradições da Copa. Como disse, fiz e farei parte do coro que reclama desses problemas. A discussão é oportuníssima. A questão é que, na vigência do evento e aos olhos do mundo, pesará em nosso favor o sucesso da Copa no Brasil. E os dados mostram que, apesar de tudo, muitos reflexos positivos permanecerão para a nação. Que saibamos aproveitar, portanto, o que de bom a Copa pode deixar.




