7.04.2014
Mudanças climáticas: informação e ação
por Germano Rigotto
É verdade que os relatórios climáticos da ONU são contestados por diversos segmentos, inclusive da ciência. Mas não se pode negar a contundência do mais recente estudo da instituição a respeito do tema. O documento, divulgado no final de março, durante o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, afirmou que as consequências passarão a ser sentidas diretamente pela humanidade – e não apenas pela natureza. Ou seja: as mudanças climáticas vão afetar a saúde, a habitação, a alimentação e a segurança da população do planeta.
O texto afirma que a quantidade de provas científicas do impacto do aquecimento global dobrou desde o último relatório, lançado em 2007. O trabalho foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas especializadas. A ONU entende ser a mais sólida evidência científica existente. Portanto, as discussões de fundo não podem sobrepor-se a um princípio universal de prudência. Isto é: diante do alerta vindo de uma organização com tamanha envergadura como a ONU, por via das dúvidas, é melhor que se preste atenção ao que está sendo dito por ela.
O dado mais relevante é o de que ninguém ficará imune ao processo de aquecimento. Segundo o levantamento, nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estarão ameaçados pela elevação da temperatura em dois graus Celsius. Estima-se que o calor do globo suba de dois a quatro graus. E veja-se que, para cada grau de aumento, a disponibilidade de água cairá 20%. Animais, plantas e outras espécies tendem a começar um deslocamento para pontos mais altos ou em direção aos polos.
As repercussões econômicas e sociais são praticamente automáticas. Algumas previsões indicam perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e trigo até 2050. A diminuição da oferta fica ainda mais grave na perspectiva da expansão da procura, uma vez que a população mundial deve alcançar a marca de nove bilhões de pessoas nos próximos trinta anos. A produtividade pode cair 2% por década até o final do século, enquanto a demanda crescerá 14% até 2050. Nações pobres, especialmente da África, podem ser as principais vítimas desse processo, uma vez que seus habitantes são mais vulneráveis. Os estudiosos não descartam o surgimento de grandes movimentos migratórios relacionados ao clima.
Para além dos números, o relatório da ONU coloca na pauta mundial o tema do comprometimento. Estamos diante de um problema que é de todos, mas também de cada um. É coletivo e, ao mesmo tempo, individual. Se os efeitos podem repercutir primeiro nos países mais pobres, os mais ricos não estarão imunes a eles. E, até hoje, o que vemos é certo desprezo por parte de alguns presidentes ou primeiros-ministros desses países. Oxalá o novo alerta possa mover os líderes mundiais a um novo pacto, que saia do papel e migre para políticas de sustentabilidade consistentes. Para compromissos com intenção e execução. Para ações com resultado.
Enquanto isso, a dinâmica da preservação também deve ser incorporada ao cotidiano das pessoas. De algo teórico e distante, esse assunto precisa vir para o dia a dia das famílias, das escolas, dos meios de comunicação, do ambiente social. É algo que tem ocorrido nos últimos anos, mas que precisa intensificar sua presença na perspectiva concreta. Isto é: o cada um de nós, individualmente, pode fazer para evitar a desordem ambiental. Muitos querem ajudar, mas carecem de informação. E só ela, a informação, gera consciência e ação. Que o relatório da ONU, portanto, diante de tudo o que traz, promova a consciente ação – das nações, das empresas, da sociedade, das pessoas. Da humanidade e de cada ser humano.




