2.09.2013
Antevendo o envelhecimento populacional
por Germano Rigotto
Os índices que mostram aumento de longevidade são, em si mesmos, sinais positivos: as pessoas estão vivendo mais. Porém, carregam consigo enormes desafios. Divulgado na última semana, um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforça a tendência de que o Brasil envelhece cada vez mais rápido, enquanto os índices de fecundidade caem.
O levantamento mostra que a esperança de vida ao nascer chegará, em 2060, a 78 anos para homens e 84,4 anos para mulheres. Hoje, esses índices estão em 71,3 e 78,5, respectivamente. Para ambos os sexos, a esperança de vida alcançará 80 anos de idade em 2041.
Além disso, o percentual de idosos, que em 2013 era de 7,4% da população (14,6 milhões de pessoas), mais do que dobrará em 2041, quando será de 18,5%, (42,2 dos 228,3 milhões de habitantes). Em 2060, os idosos representarão 26,7% dos brasileiros, somando 58,4 milhões. Apenas no Rio Grande do Sul, o percentual de moradores acima dos 65 anos atingirá 18,4% até 2030.
Por outro lado, a taxa de fecundidade seguirá a tendência de queda observada nos últimos anos. Em 2010, cada brasileira tinha em média 1,9 filho. Atualmente, o índice está em 1,77 filho por mulher, mas chegará a 1,61 filho em 2020. Dez anos depois disso, o valor projetado é de 1,50 filho, patamar que deve se manter estável nas décadas seguintes. A diminuição mais significativa ocorre nas classes média e alta.
Em 2013, o Brasil registra um percentual de 24,1% da população entre 0 e 14 anos, cerca de 48,5 milhões de pessoas. Em 2060, as crianças somarão 13%, de acordo com a projeção, totalizando 28,3 milhões de habitantes – menos da metade dos números de 2000, quando o país ficou em 52,1 milhões nessa faixa etária.
Teremos um período intermediário. Em 2022, o Brasil atingirá o menor valor do bônus demográfico – quando mais pessoas estarão em idade para trabalhar e menos crianças e idosos dependerão de sustento. Serão 42 dependentes para cada cem pessoas, número que em 2060 chegará a 65,9. Esse interim é a oportunidade de reposicionar o país antes da mudança que se consolidará em seguida.
O estudo mostra, portanto, que ainda somos um país jovem, mas seguimos a tendência que já seu deu na Europa. Por mais que ainda tenhamos um bônus no meio do caminho, o fato é que a população está envelhecendo. Essa constatação requer um novo posicionamento, de alto a baixo, em todas as políticas de governo e mesmo nas estratégias de mercado. É preciso preparar-se para a nova realidade.
Uma das mudanças culturais necessárias para fazer frente a isso é manter em atividade econômica as pessoas com mais de 50 anos, de modo que gerem a própria renda e diminuam o grau de dependência. O país também precisará repensar e fortalecer o atendimento aos idosos, assegurando saúde e assistência social de qualidade. A previdência, já combalida pelos sucessivos déficits, terá que se adequar ao crescimento da população longeva – e de igual forma, o aumento do gasto com inativos exigirá cada vez mais dos orçamentos.
O desafio é duplo e concreto: a longevidade cada vez maior da população associada à diminuição da natalidade. Essa mudança geracional em curso vai alterar substancialmente a organização social do país – e isso não é algo tão simples. Se não soubermos lidar com a transformação, nossos sucessores pagarão o elevado preço da estagnação. E essa não é uma pauta para ser enfrentada amanhã. É para ontem!




